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Não se pode acusar Persio Arida de falsidade. Ele é um tucano sincero, sem papas na língua. Em entrevista para a Folha de hoje, o economista – um dos pais do Plano Real – ataca sem piedade o novo piso para o salário mínimo:
Qual vai ser o impacto deste aumento do salário mínimo?
Isso é desastroso. É uma regra desprovida totalmente de qualquer sentido. É uma superindexação. Porque é uma indexação pela inflação passada e mais ajuste do PIB. É uma regra na contramão de tudo que o país precisa. É uma regra que visa recompor o valor do salário mínimo, mas que na verdade tem um efeito prejudicial do ponto de vista de custos do trabalho, exerce uma pressão inflacionária. Tem um efeito danoso sobre os orçamentos de Estados e municípios que empregam muita gente com salário mínimo. E particularmente danoso sobre a Previdência, porque as aposentadorias são relacionadas ao mínimo.
A declaração de Arida vai na contramão de todas as pesquisas sérias sobre o tema, que revelam a importância capital do salário mínimo para a distribuição de renda no país.
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Agora, é óbvio que o salário mínimo aumenta o custo do trabalho. O contrário também é válido. Quanto menor o salário, menor o custo do salário. Por esse raciocínio, então, pagaríamos R$ 100 de salário mínimo e teríamos um dos menores custos do trabalho no mundo.
O que Arida não percebe e isso é muito sintomático, pois revela a mentalidade neoliberal em sua essência, é que a melhora do poder aquisitivo do trabalhador é justamente o grande motor do desenevolvimento brasileiro. O PIB voltou a crescer a taxas aceitáveis a partir de 2004 justamente porque foi ancorado no consumo doméstico, estimulado por sua vez pela queda no desemprego e no aumento do salário mínimo.
O salário mínimo, segundo pesquisas do Ipea, distribui mais renda do que o bolsa família. Além de ser uma renda muito mais digna, por uma razão óbvia: o Bolsa Família dá R$ 120 para uma família, mínimo dá R$ 622.
Rafael Osório, técnico em Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos Sociais (Disoc) do Ipea, explicou o estudo. Segundo ele, a política de valorização do salário possibilitou que famílias de trabalhadores que recebem salário mínimo ou aquelas beneficiárias da previdência saíssem da pobreza por causa do aumento real de rendimento.
“A política de valorização do salário foi um dos grandes fatores de redução da pobreza nos últimos anos”, constatou Rafael Osório. Ele também destacou o fato de que cada vez menos a pobreza é determinada por baixa remuneração pelo trabalho e cada vez mais pela desconexão com o mercado de trabalho.
Em relação ao Bolsa Família, o técnico falou que o programa não tem sido tão efetivo quanto poderia. Embora haja uma cobertura bem expressiva – quase todas as famílias pobres ou extremamente pobres recebem o benefício –, como os valores transferidos são muito baixos, nenhuma família sai da pobreza ou da extrema pobreza somente com o programa.
O grande sucesso do governo Lula foi provar que a pobreza era o principal obstáculo para o desenvolvimento nacional. A sua redução libertou forças aprisionadas há séculos. Analistas ainda aguardam ver essas mudanças refletidas na cultura e na ciência, mas na economia pudemos observar ex-pobres usando transporte aéreo, comprando casas, carros, eletrodomésticos, e tudo isso em meio a um cenário internacional negativo, com os países ricos em crise.
O Brasil só não aproveitou mais a crise porque muitos de nossos industriais ainda partilham da mentalidade retrógrada que observamos nos jornalões. Sem fé no povo brasileiro, não investem, não inovam, o que leva os consumidores a adquirirem mais produtos importados. Mas não são todos assim. De qualquer forma, a indústria de produtos finais para o consumidor é a última a crescer. Primeiro vem a indústria de base, a começar pelas refinarias e siderurgias, e obras de infra-estrutura, que atravessam um vigoroso processo de expansão, o qual ainda demorará alguns anos para amadurecer. Dentro de 4 a 5 anos, quando as novas siderurgias, refinarias, novos portos, estradas, ferrovias e aeroportos estiverem prontos, poderá acontecer um novo ciclo de desenvolvimento para a indústria nacional de bens de consumo.
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