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Chega a ser engraçado como o discreto Kassab tornou-se uma das peças mais importantes do atual xadrez político brasileiro. E isso mesmo sendo um prefeito impopular. Hoje a Dora Kramer afaga o prefeito, numa tentativa de reaproximá-lo das bases tucanas.
Kassab pode ser um péssimo administrador, mas revelou-se um político hábil e surpreendente. Ao oferecer o nome de Henrique Meirelles para candidato a vice-prefeito, na mesma chapa que o PT, ele desnorteoou os tucanos, que o vinham esnobando abertamente.
O PT de São Paulo dificilmente aceitará coligar-se ao PSD, pois tem feito um discurso de oposição e seria difícil desligar-se dele.
Mas acredito que Lula gostaria de uma aliança entre PT e Kassab, sobretudo se lhe trouxesse o nome de Henrique Meirelles, pelo potencial de apaziguamento da fúria conservadora que acomete a classe média paulistana, não apenas durante a eleição, mas também depois dela. Kassab não divulgaria a sua oferta sem uma sinalização positiva de Lula.
Por isso os tucanos estão em polvorosa. A única salvação seria a entrada de Serra, assumindo a candidatura. Mas o ex-governador ainda tem esperança de se candidatar à presidência, visto que Aécio Neves não parece estar empolgando ninguém. O senador mineiro talvez prefira esperar uma oportunidade mais promissora, em 2018.
Mas tudo isso é especulação.
As peças estão sendo movidas com intenções ainda misteriosas. De qualquer forma, vale a pena estudar o tabuleiro paulista.
A presidente Dilma é a peça mais enigmática de todas. Ontem esteve em São Paulo, participando de cerimônia junto com o governador Geraldo Alckmin. A cordialidade e simpatia de Dilma para com Alckmin e sua primeira-dama lançaram ainda mais névoas sobre as intenções do Planalto no estado. Os críticos da cordialidade dilmista, que já se tornou sua marca registrada dizem que ela confunde a militância vermelha. É certo, mas o mesmo sentimento, e talvez em maior grau, também se aplica à militância azul.
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Reproduzo abaixo a matéria da Folha que descreve a visita de Dilma a São Paulo e, em seguida, a análise de Eliane Cantanhede que espelha essa realidade, com tantos sorrisos na superfície, mas tão repleta de gigantescas e poderosas segundas intenções. No caso da Dilma, as segundas intenções parecem ser usar a sua “simpatia” para aplicar políticas públicas efetivas em São Paulo. O convênio assinado ontem entre Dilma e Alckmin prevê investimentos de R$ 8 bilhões para construção de 100 mil casas no estado, dentro do programa Minha Casa Minha Vida, que é o programa mais autoral da presidente até o momento. 77% dos recursos sairão dos cofres federais.
Os textos:
Em clima de lua de mel, Dilma e Alckmin exaltam parceria e trocam afagos em SP
BERNARDO MELLO FRANCO, DE SÃO PAULO
Em clima de lua de mel com o governador Geraldo Alckmin, a presidente Dilma Rousseff aproveitou ontem uma solenidade no Palácio dos Bandeirantes para exaltar a “parceria estratégica” com o tucano em São Paulo.Ela descreveu a aproximação como prova da “maturidade do Brasil”. Alckmin retribuiu com elogios à “beleza da boa política” e à “harmonia entre os governos em benefício da população”.
“Nós temos feito, e eu quero reconhecer aqui, parcerias muito efetivas com a gestão do governador Geraldo Alckmin”, afirmou Dilma.
“É impossível, no Brasil, um governante achar que governa sem o governo estadual e os prefeitos. Podemos ter nossas divergências eleitorais. Acabou a eleição, elas deixam de existir.”
A presidente comparou o conflito entre diferentes esferas de governo à quebra de decoro parlamentar -falha de comportamento que pode levar à cassação do mandato de deputados e senadores.
“Não se pode ter uma relação de atrito com Estados ou municípios. Esta é a grande característica do decoro governamental”, disse.
Sobraram afagos até para a primeira-dama Lu Alckmin, com quem Dilma conversou animadamente na cerimônia. Num elogio à moda antiga, ela a apresentou como símbolo da “capacidade da mulher paulista de ser acolhedora e de receber muito bem”.
Em seu discurso, Alckmin louvou as parcerias entre Estado e União no combate à miséria, na hidrovia Tietê-Paraná, no rodoanel e na habitação popular. “O senhor esqueceu que nós lançamos também a Ferronorte”, devolveu Dilma, em tom amigável.
Ontem, os dois assinaram convênio para a construção de 100 mil casas e apartamentos populares no Estado, no programa Minha Casa, Minha Vida. O pacote prevê investimentos de R$ 8 bilhões, sendo 77% dos cofres federais.
Esta foi a terceira visita da presidente ao Bandeirantes em apenas seis meses. A assiduidade incomoda a ala do PSDB ligada ao ex-governador José Serra, que ela derrotou nas eleições de 2010.
Após a cerimônia, Dilma se reuniu com o ex-presidente Lula por três horas no escritório regional da Presidência. Ela pretendia consultá-lo sobre a reforma ministerial.
Colaborou DANIEL RONCAGLIA, de São Paulo
***
Convivência cordial entre o PT e o PSDB é apenas aparência
APESAR DAS APARÊNCIAS E DA IMENSA CONFUSÃO DE ALIANÇAS E DE ATORES NA ELEIÇÃO DE SÃO PAULO, É UM CONTRA O OUTRO
ELIANE CANTANHÊDE, COLUNISTA DA FOLHA
Acabou a solenidade do Minha Casa, Minha Vida, a presidente petista Dilma Rousseff correu para uma conversa de três horas com o padrinho Lula, enquanto o governador tucano Geraldo Alckmin foi trocar ideias com o prefeito Gilberto Kassab.
Os dois movimentos reforçam a polarização PT-PSDB. Apesar das aparências, da convivência cordial de Dilma e Alckmin e da imensa confusão de alianças e de atores na eleição de São Paulo, é um contra o outro. Os demais girando como satélites.
O PT mudou muito, mas é o PT. O PSDB está totalmente rachado, mas é o PSDB. As duas novidades são a entrada em cena do PSD de Kassab, que oscila entre ambos, e a tentativa do PMDB de lançar a candidatura de Gabriel Chalita para recuperar liderança política em São Paulo.
É por isso que, ao oferecer um nome -qualquer nome- do seu PSD para Lula como vice do petista Fernando Haddad, Kassab confundiu ainda mais o cenário e deixou os dois lados atordoados. Serviu como pausa para pensar.
Se o PT já engoliu a candidatura Haddad só porque Lula quis, é muito difícil assimilar um vice indicado por Kassab. Lula até gostaria de reunir o máximo de forças políticas e isolar os tucanos, mas o prefeito é a alma da campanha petista. Sem Kassab, quem será o alvo? Qual será o discurso?
No caso do PSDB ocorre o mesmo, em sentido contrário. A eleição, a vitória e a gestão de Kassab na prefeitura são indissociáveis dos tucanos, o que vale mais para o ex-governador José Serra, mas vale também para Alckmin, queira ele ou não.
Quem é mesmo o seu vice? Guilherme Afif Domingos, que é do PSD, pré-candidato de Kassab à sua sucessão.
Como, então, o PT poderia usar seus palanques para defender ou no mínimo ignorar Kassab? E como o PSDB poderia se esgoelar para criticar a gestão dele?
O plano A de Kassab segue sendo lançar o cabeça de chapa e ter apoio de Alckmin, que é quem dá as cartas tucanas no Estado e na capital e está atolado em várias candidaturas, três delas de secretários de seu governo. Preferia Bruno Covas, recuou e virou uma esfinge.
Kassab, portanto, é o centro do universo neste momento em São Paulo. Não apenas por ser formalmente o prefeito, mas por aliar índices medíocres de popularidade à capacidade política de criar um novo partido tão eclético e por ameaçar desequilibrar para um lado ou para o outro a polarização PT-PSDB.
O excesso de interrogações ainda é, assim, o forte da campanha paulistana. O que há de concreto é uma transição geracional, com nomes e caras novas, e um novo peso local para Lula. A capital nunca foi seu forte, mas isso parece coisa do passado.
Mais uma vez, o jogo nacional começa a se definir por São Paulo e pela disputa PT-PSDB. E o PSDB parece claramente em desvantagem.
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