Mídia manda Aécio fazer oposição

Esse texto do Josias, assim que foi reproduzido no Nassif, virou sucesso em número de comentários. É uma cacetada cruel em Aécio, embora o aponte como o provável nome da oposição para enfrentar Dilma em 2014. Na minha opinião, Aécio não é um sujeito inteligente e astuto como Serra, mas não é tão mau caráter (embora isso talvez se deva mais a sua pusilanimidade do que a uma virtude assertiva). Nas vezes em que eu o vi discursar, inclusive uma vez, ao vivo, na Estação da Luz, fiquei pasmo com a maneira convencional e enfadonha com que se expressa. Não tem um pingo de naturalidade. É como se ele não gostasse do que faz, apenas seguisse as instruções de sua equipe de marketing.

Por isso não me espantei ao ler o post do Josias.

Entretanto, eu acho que o texto de Josias tem uma função bem clara: espicaçar Aécio para que faça uma oposição mais estridente. De certa maneira, ele já está fazendo isso, mas se limita a repetir as críticas lacerdistas ou conservadoras que vemos na imprensa. Não diz nada criativo. Não tem uma proposta realmente popular, capaz de despertar a admiração das massas, dos jovens, aposentados, trabalhadores.

Josias, naturalmente, escolheu a dedo os entrevistados de maneira a extrair declarações contundentes e ferinas contra o senador mineiro.

A mídia paulista está sedenta para encontrar um nome de peso que seja seu fantoche no Congresso. Aécio não aceitou esse papel, por enquanto. Apenas se restringiu a repetir, de maneira quase protocolar, alguns clichês midiáticos, e isso nos momentos mais agudos de “crise política”.

Ainda há a possibilidade de que o post de Josias tenha o dedinho de Serra, uma espécie de vingança contra a dubiedade com que o mineiro reagiu à repercussão do livro Privataria Tucana, que traz denúncias desmoralizantes contra o ex-governador de São Paulo. Além, é claro, de ser um ponto a seu favor neste momento em que sobe a pressão para que ele, Serra, entre na disputa pela prefeitura da capital paulista, abandonando as pretensões de ser novamente candidato em 2014. É preciso entender que, mesmo sabendo-se sem chances de vitória, muitos políticos aspiram participar da eleição presidencial com olho nas sobras de campanha. Em se tratando de Serra que, mesmo em baixa, ainda consegue reunir em torno de si a elite do antipetismo, o potencial arrecadador é muito grande.

 

2014: decepção com Aécio desnorteia oposição

Por Josias de Souza, em seu blog.

Há um ano, Aécio Neves era celebrado como grande promessa da oposição. Hoje, tornou-se um nome duro de roer. Tucanos e aliados viam nele a melhor opção presidencial. Passaram a enxergá-lo como a pior decepção da temporada.

Em qualquer roda de políticos ficou fácil reconhecer um oposicionista: é o que está lamentando a popularidade de Dilma Rousseff e falando mal de Aécio Neves. Nas discussões sobre 2014, o senador mineiro é personagem indefeso.

Para perscrutar as razões do desencantamento com Aécio, o blog ouviu cinco lideranças da oposição. Gente do PSDB, do DEM e do PPS. Um dissidente de legenda governista. O compromisso do anonimato destravou-lhes a língua.

p>Espremendo-se as opiniões e peneirando-se os exageros, obtem-se um sumo uniforme. A desilusão dos oposicionistas assenta-se em três avaliações comuns:
1. A atuação de Aécio em seu primeiro ano de Senado foi apagada. Algo incompatível com a biografia de um ex-presidente da Câmara. Ele não aconteceu, disse um dos entrevistados, no melhor resumo do sentimento que se generaliza.

Como assim? Quando Itamar Franco era vivo, a voz de Minas no Senado era a dele, não a de Aécio. O grande feito de Aécio no Senado foi a relatoria do projeto que redefine o rito das medidas provisórias. Proposta do Sarney, não dele. É pouco.

2. Dono de estilo acomodatício, Aécio é uma espécie de compositor da política. Compõe com todo mundo. Governou Minas com o apoio de partidos que, no Congresso, davam suporte a Lula. Em Brasília, o espírito conciliador, por excessivo, foi tomado como defeito.

Aécio exagerou, queixou-se um ex-entusiasta do senador. Esmiuçou o raciocínio: no afã de atrair para o seu projeto pedaços insatisfeitos do bloco pró-Dilma, Aécio esquece que a oposição deve se opor. É improvável que ganhe aliados novos. E está perdendo os antigos.

3. Imaginou-se que, livre dos afazeres de governador, que o prendiam a Minas, Aécio viraria rapidamente um personagem nacional. Por ora, nada. Por quê? A projeção exigiria dedicação e ampliação do horizonte temático, palpita um dos queixosos.

Mas Aécio não é um obcecado pelo Planalto? Sim, mas revelou-se pouco aplicado e esquivou-se das polêmicas. Viajou pouco. No Senado, não foi dos mais assiduous em plenário. Subiu à tribuna só de raro em raro. No geral, esquivou-se das polêmicas.

O critico citou um exemplo: PSDB e DEM decidiram quebrar lanças contra a DRU, o mecanismo que permite ao governo dispor livremente de 20% do Orçamento. Entre os tucanos, apenas cinco votaram contra. Aécio não estava entre eles.

Ninguém vira alternativa presidencial fugindo dos temas espinhosos, lamuriou-se um expoente do próprio PSDB. Aécio continua sendo alternativa graças à vontade pessoal e à ausência de um sucedâneo. A sorte dele e que a maioria do partido não suporta o José Serra.

Parte da cúpula do PSDB tenta antecipar para depois da eleição municipal de outubro a definição do nome do presidenciável da legenda. Em âmbito interno, a aversão a Serra faz de Aécio um favorito.

Fora daí, é visto pela própria oposição como uma ex-promessa. Uma liderança que se absteve de acontecer. Um candidato que depende do fortuito para livrar-se da condição de favorito a fazer de Dilma uma presidente reeleita.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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