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A pior droga não é o crack

A pior droga é a covardia. Ela também vicia, também destrói, também nos torna vulneráveis. Há dias que venho querendo escrever um post sobre a maneira pela qual o governo de São Paulo decidiu combater o consumo de crack em algumas áreas da capital.

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A pior droga é a covardia. Ela também vicia, também destrói, também nos torna vulneráveis. Há dias que venho querendo escrever um post sobre a maneira pela qual o governo de São Paulo decidiu combater o consumo de crack em algumas áreas da capital.

Quase ia deixando para lá, até ler esse post do Fernando Brito, no qual ele acusa pesadamente, e com razão, o silêncio dos intelectuais diante de um crime tão hediondo como o que assistimos.

E a cada dia que passa, o negócio fica mais deprimente.
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Além da brutalidade , ignorância, falta de solidariedade, incompetência, descobre-se agora que as ações truculentes foram movidas por outro sentimento baixo: mesquinhez.

Cientes de que o governo federal tinha um programa de combate ao consumo de crack em todas as grandes cidades do país, e particularmente em São Paulo, a administração tucana decidiu atacar o problema às pressas, numa medida quase desesperada. Os viciados fumam crack no centro de São Paulo, mas parece que os mais doidos e “noiados” estão no Palácio dos Bandeirantes.

O resultado é um desastre completo, em todos os sentidos. E quem está acusando é a própria imprensa conservadora, aliada de Alckmin, porque não dá para tampar o sol com a peneira.

Com a perspectiva de eliminarmos a miséria absoluta do Brasil em alguns anos, o forte aumento do salário mínimo este ano e o nível de emprego alcançando quase a plenitude da população economicamente ativa, o maior problema do Brasil, arrisco dizer, é o consumo de crack.

Porque os outros problemas estão sendo, de uma forma ou outra, encaminhados, enquanto o consumo de crack só faz aumentar. E sendo uma droga extremamente pequena e fácil de esconder, a repressão ao tráfico nunca dará conta. É preciso antes um trabalho de assistência aos viciados, e intensificação de campanhas. Os poderes públicos devem trabalhar integrados.

A única vez em que eu vi tamanha mesquinhez no poder público foi quando César Maia, prefeito do Rio pelo DEM, entrou com uma ação na Justiça (e ganhou) contra a ajuda do governo federal ao sistema de saúde da cidade, que enfrentava uma situação de caos. Inicialmente, Cesar havia recebido a ajuda do governo federal com frieza e até ironia. “Toda ajuda é bem vinda”, declarou. Mas não ordenou nenhuma ação para melhorar a integração entre as forças de saúde federais e municipais. Quando a imprensa começou a divulgar imagens e vídeos das pessoas sendo atendidas com rapidez e eficiência em tendas montadas pelo Exército na Campo de Santana, ele conseguiu uma liminar para interromper o auxílio federal.

Lembro que aquilo me deixou pasmo, e pensando na ausência de críticas por parte da imprensa e, portanto, da intelectualidade (que só se expressa através da imprensa), não me espantaria nada se a decisão de Cesar tenha sido tomada após algum tipo de pacto de não-agressão com os diretores das organizações Globo.

Agora vemos esse descalabro em São Paulo. O mesmo tipo de inacreditável mesquinhez. Dentro de algumas semanas, o governo federal iria começar um trabalho nas cracolândias da cidade. Havia um cronograma, uma agenda, um método, elaborado por estudiosos, com muitos paulistas entre eles, seguramente. O governo de São Paulo poderia integrar-se a este projeto, visto que a magnitude dos problemas relacionados ao uso de crack é de tal monta que mesmo o melhor programa de assistência ainda será insuficiente. Mas não. Prefere atropelar o processo e mandar a PM espalhar os noiados, dificultando o trabalho dos assistentes sociais inclusive do próprio governo. E tudo isso sem nenhum estudo específico. Entrevistado, o chefe da política anti-drogas do governo tucano diz que o objetivo é mesmo causar “dor e sofrimento”, porque isso forçaria os doentes a procurarem ajuda. É a guerra do Iraque?

E depois os colunistas vem dizendo que “o Brasil não tem oposição”. Ora, essa é a oposição no Brasil? Um bando de aloprados que jamais hesitam  em ordenar o espancamento de crianças viciadas, estudantes universitários e professores idosos?

Esperemos que a “intelectualidade”, conforme denunciou nosso amigo blogueiro Fernando Brito, não se cale diante dessa violência. Não se trata aqui de nenhuma questão partidária, e sim de direitos humanos, e de uma estratégia minimamente inteligente e eficaz para combater o consumo de crack no Brasil.

 

(Capa do Estadão de hoje. O blog parabeniza os editores do jornalão pela coragem de publicar uma denúncia contra o governo de SP, coisa rara junto à imprensa paulista. Esperemos, porém, que a essa coragem se junte também a teimosia, insistência, tenacidade, que demonstram sempre que sentem cheiro de um ministro fritando).

 

Peço desculpas por publicar a foto acima, mas ela está na edição impressa do Estadão. É uma foto da menina que foi baleada na boca (com bala de borracha) por um PM de SP, durante uma das ações da polícia. Ela ficou mutilada.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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elson

11/01/2012 - 05h15

Um sintoma do negligenciamento politico com a questão da criminalidade no estado de São Paulo aconteceu em 2006 , quando o PCC assumiu o controle dos presídios , o governo Lula ofereceu os presídios federais para que os líderes do motim fossem isolados , o governo de São Paulo recusou e ainda presenteou Marcola com uma teve de tela plana . Isso tudo aconteceu simplesmente porquê policiais civís achacaram um enteado de Marcola .

elson

11/01/2012 - 05h09

Enquanto a policia continuar a prender os pequenos traficantes ela estará enxugando gelo , deve-se portanto realizar ações de inteligencia aliadas a ações sociais para que se consiga algum exito .
O fato do governo paulista rejeitar ajuda da união é coisa de picuinha política , de não querer dar o braço a torce e admitir que não tem competencia para lidar com a questão .


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