Mídia chantageia STF

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Esta matéria da Carta Maior faz uma pergunta bastante pertinente neste momento, em que a mídia inicia um processo de forte pressão sobre os juízes do Supremo Tribunal Federal (STF), para que: 1º, aceleram o julgamento do mensalão; 2º, condenem os réus. A pergunta é: e o julgamento do mensalão tucano? Não vai ter pressão? A Carta Maior informa que a Polícia Federal segura há mais de um ano o resultado do exame da assinatura de Eduardo Azeredo, até pouco tempo líder do PSDB no Senado, num documento que prova seu envolvimento em caixa 2 e desvio de verba em sua campanha de 1996.

O Estadão hoje publicou um artigo pesadíssimo, abusando de termos como “petralhada” e clichês como “Nunca se roubou tanto na História deste país!”. Um trecho do texto, contudo, soa quase como piada, diante do que hoje sabemos sobre a privataria:

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O fenômeno de aumento do produto interno bruto poderia, no entanto, ser interpretado, de forma mais realista, nos seguintes termos: o fato de os governos de Fernando Henrique Cardoso terem feito o dever de casa no que tange às privatizações (…)

O que me pareceu mais grave, no entanto, é o seguinte trecho, que mostra a crescente chantagem com que a mídia já começou a ameaçar os ministros do STF:

O divisor de águas da definitiva subserviência do Judiciário será o julgamento do mensalão. Se os petistas conseguirem protelá-lo e engavetá-lo, estaremos em face da definitiva cooptação da nossa mais importante Corte pelos interesses partidários, com grave risco para a democracia.

Merval Pereira, principal colunista político do Jornal O Globo, e a voz mais autorizada do mais poderoso grupo de comunicação do país, vai na mesma linha em sua coluna de hoje:

O Supremo terá [no caso do mensalão] o duplo papel de julgar e ser julgado pela opinião pública. (…)

Se satisfeita com a decisão sobre o CNJ, a opinião pública transferirá para o STF a esperança de que se faça justiça no julgamento do mensalão.

Se, ao contrário, considerar que o plenário do STF atendeu mais aos interesses da classe do que aos da sociedade, a metafórica “faca no pescoço” a que o ministro Lewandowski atribuiu o indiciamento do exministro José Dirceu como “chefe da quadrilha” poderá voltar a funcionar.

É claro que os ministros do Supremo têm que se ater ao que está nos autos, mas têm também que observar o que a sociedade espera da Justiça.

Destaquei o trecho final, porque ele é revelador do espírito justiceiro (seletivamente, claro) da mídia. O STF não tem nada que “observar o que sociedade espera da Justiça”, até porque isso é um ponto absolutamente subjetivo e relativo. Que sociedade? Ou melhor, que setores da sociedade? Em primeiro lugar, não há pesquisas para se monitorar o que a “sociedade espera da justiça”. Em segundo, um ministro do STF deve, antes de tudo, estar acima deste suposto clamor popular, muitas vezes inspirado e açulado por uma mídia comprometida partidariamente, e julgar baseado unicamente na sua opinião pessoal em relação aos autos do processo.

Não tenho dados para afirmar o que a opinião pública espera ou não no caso do julgamento do mensalão. Tenho a convicção, porém, que a parte mais esclarecida da população (e aí devemos incluir pessoas de todos os espectros ideológicos) quer simplesmente que os ministros sejam justos e isentos, punindo quem deve punir e inocentando quem deve inocentar, e isso requer independência de pressões midiáticas e um espírito livre de qualquer rancor ideológico, político ou partidário. [/s2If]

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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