A Ungida – Parte 7/13
Por Nicholas Lemann, da New Yorker. Tradução: Miguel do Rosário.
Os assessores de Lula tentaram concluir a entrevista, mas Lula não parecia afim de parar. Finalmente, ele se levantou e me deu um abraço: não um desses cuidadosamente calculado entre conhecidos sem intimidade, mas um longo, apertado, usando os dois braços, barriga contra barriga. A gente conversou um pouco mais enquanto eu me despedia. Lula disse que ainda era muito cedo para escrever suas memórias presidenciais. Em vez disso, ele iria publicar uma coletânea de cinquenta memórias, escritas por pessoas que participaram de sua administração. Empresários iriam contribuir, e gays e índios e mesmo Bill Gates, se ele quisesse. E depois Lula pensa em criar um museu da democracia. Além disso, há dois documentários sobre a sua presidência em andamento. Ele me deu outro abraço e dissemos adeus.
Nos próximos anos, o governo brasileiro terá uma série de oportunidades de alto nível de ganhar projeção ou embaraçar-se. A conferência Rio + 20 sobre desenvolvimento sustentável será realizada em junho, no aniversário da Eco 92. Depois virá a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016, ambas no Rio de Janeiro. O charme da cidade é bem conhecido, assim como seus problemas: aeroportos inadequados, trânsito terrível e chocantes índices de pobreza e criminalidade nas favelas, que se estendem pelas montanhas que cortam toda a cidade. Não há um serviço de trem entre Rio e São Paulo, que estão entre as maiores cidades do mundo e ficam mais próximas que Nova York e Washington DC. Uma dúzia de estádios e vários novos museus deverão supostamente estar prontos antes que o mundo inteiro chegue – bilhões de dólares em projetos.
O governador do estado do Rio de Janeiro, que encampa a cidade e o interior, é Sérgio Cabral, um político em ascenção que é frequentemente mencionado como um potencial futuro presidente do Brasil. Cabral governa de um amplo e murado complexo dentro da capital. O dia em que eu o visitei, ele estava trabalhando até tarde. Lula estava na cidade e eles participaram de um evento juntos, após o qual Cabral deu uma carona a Lula em seu helicóptero. Cabral, filho de um jornalista que foi preso na ditadura, é um político nato, mas, diferente de Lula, que faz o tipo íntimo, Cabral faz o tipo exuberante. Ele é um belo homem, agitado, com uma vasta cabeleira e um peito inflado. Ele sabia que seu papel era me contar sobre os planos que ele e a presidente Dilma tinham para melhorar o Rio – ele fala inglês entusiasticamente, embora nem sempre de maneira muito correta – mas ainda estava emocionado com seu recente encontro com Lula. “O Presidente Lula é incrível!”, declarou.
Um assistente nos trouxe café. Na mesa de Cabra, olhando para seus visitantes, havia fotos dele com o presidente Obama e com Lula. “Ele escolheu uma mulher, uma mulher forte, para concorrer à presidência – pela primeira vez na história”, disse Cabral. “Todos os ministros – finanças, infra-estrutura – obedecem a ela. Ele nunca havia participado de uma eleição em sua vida. Ela tem uma linda trajetória, uma história”. Ele estava se referindo às suas atividades como militante e seu tempo de prisão. “Ela arriscou sua vida em prol da democracia. Mas ela nunca concorreu!” Cabral não mostrava, obviamente, que isso tivesse grande importância no currículo de Dilma.
“Eu concorri à reeleição junto com sua campanha – incrível!”, ele disse. “Ela não parecia inexperiente. Não! Eu a acompanhei em muitos debates – incrível! Ela aprendia tudo rápido”. Ele descreveu um desses terrivelmente chatos eventos de campanha que se arrastavam interminavelmente. “Ela saía?”, ele disse. “Não. Ela gostava! Assim como eu, ela tem um forte respeito pelo presidente Lula. Ela é grata a ele”.
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