A Folha publicou uma matéria hoje que mais confunde do que informa. Aliás, parece que o objetivo é justamente esse: confundir. O título é: “Funcionalismo cresce 21% em dez anos”. O texto rapidamente foi parar em blogs da direita.
A reportagem faz uma pirueta. Fala no aumento de 21% do funcionalismo entre 2000 e 2010, contra um crescimento de 12,5% da população. Reproduz crítica de um professor contra a “chegada de pessoas indicadas por partidos políticos”, e menciona os 86 mil cargos de confiança da administração federal. Com isso, induz o leitor a pensar que o aumento do funcionalismo se deu por causa desses cargos de confiança, ou por indicações políticas, quando os estudos do IPEA mostram que a grande maioria dos novos funcionários entrou no serviço público através de concursos.
A matéria também não lembra ao leitor que este aumento verificado no período em questão reconstitui em parte o quadro de funcionários que havia sido brutalmente enxugado durante os anos 90. Houve, além disso, uma decisão judicial no período, obrigando o Executivo a substituir terceirizados por funcionários de carreira.
Há um mérito na reportagem, que é lembrar estudo do Ipea segundo o qual a proporção de servidores públicos para o total da população é bem menor do que em outros países: no Brasil, 10,7% dos empregos são públicos; contra 31% na Suécia. Pena que não dá um link, para que possamos fazer uma comparação com outros países; e ao citar somente a Suécia, fica parecendo meio caricatural, como se estivéssemos comparando a renda média numa favela do Haiti com a dos moradores da Vieira Souto. O Cafezinho dá o link para o estudo completo do IPEA, e reproduzo a tabelinha presente no documento, comparando os países.
O interessante não é comparar com a Europa, que tem população pequena e pouquíssimos problemas de ordem social (até agora, pelo menos), e sim os EUA, país mais parecido conosco em demografia, além de ser uma referência política liberal. Nos EUA, temos 14,8 funcionários públicos para cada 100 empregos, contra 10,7% no Brasil.