Eu sugiro que assistam a esse vídeo, onde o ditador de plantão da Argentina, Jorge Rafael Videla, anuncia a entrega do controle da fábrida Papel Prensa aos três grandes grupos de imprensa do país: Clarín, La Nación e La Razón. O ultimo sairia da sociedade mais tarde.
A sugestão é de um comentarista do blog do Nassif, Michel, que escreveu isso:
Repare neste trecho do discurso de Videla: “que pese a esses três [grupos] com um objetivo comum, como uma só entidade para, com todos os seus esforços, junto com o Estado, levar esse projeto adiante”.
Todo mundo sabe que “projeto” foi esse. Videla foi condenado à prisão perpétua por crimes de lesa-humanidade (V. Wikipedia – def. Jorge Rafael Videla). E assim se fez e ainda se sustenta os grandes veículos de comunicação latino-americanos, solidários na falsificação da verdade, na ocultação da sua história golpista e na cínica evocação da “liberdade de imprensa”.
http://goo.gl/mh0he
Ainda sobre o mesmo tema, vale a leitura do artigo de Eric Nepomuceno, publicado na Carta Maior e no Nassif.
Os grandes embates políticos que acontecem em quase todos os países sulamericanos ainda refletem a correlação de forças gerada pelas ditaduras militares que assolaram a região. Os grupos midiáticos que hoje se constituíram como principais núcleos políticos de oposição são todos os filhos crescidos dos golpes de Estado e de seus terríveis processos de depuração empresarial e ideológica, que resultaram em tortura, assassinato, censura e falência de indivíduos e companhias não alinhados ao conservadorismo brutal que tomou o poder nesses períodos de exceção.
A luta dos governos recém-eleitos contra a mídia filha da ditadura não é algo bonito de se ver, como sói acontecer com todas as guerras. É uma guerra particularmente complexa, porque envolve propaganda, ideologia e contra-informação.
Todos os governos de esquerda ao sul do Equador tem vivido situações similares. Cada um tem resolvido a seu jeito, mas a grosso modo, temos basicamente duas estratégias: a postura soft-power do governo brasileiro, de não-enfrentamento direto; e o tough-power de nossos hermanos, que aprovaram leis que afetam diretamente a vida das mídias que lhes fazem oposição.
No Brasil, o governo federal, embora sofrendo baixas constantemente, preferiu deixar que a guerra seja combatida fora de suas repartições, pela própria sociedade civil.
A estratégia embute um risco, como se viu nas eleições de 2010. A mídia, caninamente alinhada à oposição, não tem escrúpulos em fabricar escândalos às vésperas de um pleito, para mudar seu resultado. E ninguém subestima seu poder quanto a isso.
Por outro lado, confrontar os grupos midiáticos – pese o sucesso que faria junto aos internautas politizados que se sentem quase abandonados pelas lideranças oficiais da “esquerda” em sua guerra ideológica contra o conservadorismo – geraria uma onda de contrainformação talvez danosa para o governo em termos de imagem internacional. Diferentemente de outros países latino-americanos, que possuem um leque de parceiros comerciais estreito, exportam uma variedade exígua de produtos e não demonstram interesse em exercer um papel mais relevante no cenário político mundial, o Brasil tem tudo isso e tem grandes ambições políticas – não por cobiça mas pela responsabilidade que seu tamanho geográfico e seu poder econômico lhe impõem.
Em virtude de circunstâncias, portanto, bem mais complexas, a guerra da comunicação (guerra ideológica, política e, em última instância, econômica), no Brasil, tem de ser travada sobretudo com astúcia e informação, não com violência, mesmo que esta violência seja amparada democraticamente. Essa tem sido, aparentemente, a estratégia de comunicação do governo. Foi assim com Lula, e tem sido assim, mais ainda, com Dilma.
A guerra, é bom dizer, não é deflagrada pelo governo, a quem interessa sempre a estabilidade política, e sim pelos grupos de mídia, que precisam organicamente do poder para sobreviverem no longo prazo. No Brasil, os grupos de mídia aspiram o poder para controlar o processo de transformação brutal que o setor viverá dentro de alguns anos, com a convergência digital, ou seja, a fusão de internet, televisão e telefonia. Os grupos mais influentes no governo terão, mesmo que sem infringir a lei, uma vantagem fundamental no processo.