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Desemprego baixo decepciona Globo

Os vendedores de tragédia tiveram uma grande decepção ontem, e a prova está no Globo desta sexta-feira. O jornal deu uma chamadinha invisível sobre a queda no desemprego, bem diferente do que fez com os números do Caged, na quarta-feira.

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Os vendedores de tragédia tiveram uma grande decepção ontem, e a prova está no Globo desta sexta-feira. O jornal deu uma chamadinha invisível sobre a queda no desemprego, bem diferente do que fez com os números do Caged, na quarta-feira.

Capa do Globo de hoje. A chamada para os números do IBGE encontra-se no canto inferior esquerdo da página. Nem dá para ver direito.

Agora veja o escândalo que o Globo fez na quarta-feira:

 

A matéria do IBGE desta sexta-feira sequer tem chamada na capa do caderno de economia.

Na quarta-feira, os números do Caged apontavam menor geração de emprego. O Cafezinho ponderou que era normal, visto que o desemprego estava muito baixo. Os números do IBGE confirmam o que a gente havia dito. O Brasil tem hoje um contingente de 1,25 milhão de pessoas procurando emprego. É absurdo, portanto, almejarmos saldos de geração de emprego similares aos de 2010, quando geramos quase 3 milhões de postos de trabalho.

O desemprego divulgado ontem pelo IBGE ficou em 5,2% da população, o menor da história. Daria uma boa manchete na primeira página, não? Bem melhor do que dizer, mentirosamente, que a greve dos aeronautas fracassou, quando ela foi suspensa por acordo dos mesmos.

Enquanto isso, a matéria de hoje sobre o desemprego fica positivamente escondida na página 28. O Globo não oculta a sua decepção. Aliás, até usa a palavra decepção, num indicação de seu estado psicológico.

Confiram título e subtítulo da matéria no Globo:

Emprego temporário salva números do IBGE

Desemprego fica em 5,2% em novembro e resultado surpreende porque vem seguido à decepção revelada no Caged

Ambos (título e subtítulo) revelam a canhestrice do Globo. O emprego temporário não “salvou” os números do IBGE. A taxa já vinha caindo de maneira sistemática há alguns anos, e sempre cai em dezembro por conta dos empregos no comércio natalino. Desta vez, porém, caiu ainda mais que em outros anos. Os dados do IBGE apenas “surpreenderam” a quem torcia contra a economia brasileira e não havia interpretado corretamente os números do Caged, os quais não trouxeram nenhuma “decepção”, apenas mostraram um quadro matemático lógico: desemprego muito baixo resulta em saldos de geração menores. Se tá todo mundo trabalhando, não há como “gerar” emprego.

O tom da matéria do Globo não disfarça. Tenta-se a todo custo torcer números absolutamente, fantasticamente, euforicamente positivos, num fato negativo.

Repare nesse trecho, que comento em negrito:

Já a indústria manteve a tendência de desaceleração. O setor empregou 16% da população ocupada em novembro, o menor percentual desde novembro de 2003.

A tendência, no Brasil, é aumentar o percentual de participação dos setores ligados aos serviços e cair o da indústria. Acontece no mundo inteiro, em virtude da instalação de processos robóticos cada vez mais avançados nas indústrias. É sinal de desenvolvimento, e o importante é checar justamente se a taxa de desemprego não sobe.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não perdeu a oportunidade de comemorar os números do IBGE, apesar do péssimo resultado do Caged esta semana. Ele disse que o Brasil é um dos países que mais cria postos de trabalho, embora menos que no ano passado.

O resultado do Caged não foi péssimo. Ele aponta redução do saldo de geração, por razões puramente matemáticas. Além disso, os números de desemprego do IBGE, todo mundo que lida com estatísticas sabe disso, são infiniticamente melhores em termos de qualidade, porque abrangem o país todo, e incluem empregos não-formais.

Confira abaixo minhas fotografias do jornal Globo de hoje:

 

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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