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Dilma, cuidado com os idos de março!

Fui assistir, há alguns dias, o último filme de George Clooney, Tudo pelo Poder (the ides of march, no original), e agora entendi porque Lula se esforçou para evitar prévias do PT em São Paulo. Eu ouvira o Amaury Ribeiro falar, em suas entrevistas, e escrever em seu livro, que as lutas entre de facções do mesmo partido eram às vezes mais sujas do que entre partidos rivais.

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(Elenco de Tudo pelo Poder)

Fui assistir, há alguns dias, o último filme de George Clooney, Tudo pelo Poder (the ides of march, no original), e agora entendi porque Lula se esforçou para evitar prévias do PT em São Paulo. Eu ouvira o Amaury Ribeiro falar, em suas entrevistas, e escrever em seu livro, que as lutas entre de facções do mesmo partido eram às vezes mais sujas do que entre partidos rivais.

O filme, no entanto, não me pareceu mais uma dessas lacrimosas manifestações de “desencanto” com a política, ou uma denúncia da crise da representatividade. Ele simplesmente descreve, de uma forma até meio resignada, e um pouco fria, os bastidores da disputa entre dois políticos do Partido Democrata pela candidatura à presidência da república.

O protagonista, contudo, não é o governador da Pensilvânia e pré-candidato à presidência, Mike Morris, interpretado por George Clooney, mas sim o assessor de imprensa de sua campanha, o jovem Stephen Meyers, num desempenho brilhante de Ryan Gosling (e que o torna um dos favoritos para o Oscar 2012).

Meyers é, na verdade, o vice-gerente da campanha de Morris. O chefão mesmo é Paul Zara, conduzido pelo sempre impecável Philip Seymour Hoffman.

O título em inglês, que numa tradução literal seria Idos de Março, refere-se à advertência de um adivinho à Júlio César, segundo a literatura clássica (e retomada por Shakespeare), para que tomasse cuidado com “os idos de março”, expressão que corresponde, no vocabulário romano, ao dia 15 do mês em questão.

A morte de César, de fato, foi consequência de uma disputa interna de poder. Há muitas versões para a mesma história. Há uma longa tradição republicana, por exemplo, de honrar os assassinos de César, sobretudo Cassio e Brutus, por sua tentativa heróica (e mal sucedida) de evitar o fim da democracia romana, e o início do totalitarismo imperial, que já se vislumbrava desde alguns anos, sobretudo após a ascensão de César ao poder.

A versão mais popular, no entanto, popularizada inclusive por Shakespeare, trata os assassinos de César como traidores e covardes, que apunhalaram César no interior do Senado. Analisando os fatos por suas consequências, podemos inferir que o assassinato do amado líder romano foi uma ação insensata, desastrosa e contraproducente, que produziu uma guerra civil de proporções trágicas, reforçando ainda mais a necessidade de um poder absoluto, fortemente centralizado nas mãos de um só, para pôr fim aos conflitos domésticos do império e estabelecer a famosa e duradoura Pax Romana.

Os filmes de Clooney, e este não é exceção, são tudo menos gratuitos. Tudo pelo Poder critica, de maneira sutil, mas demolidora, a dependência, por parte dos candidatos à Casa Branca, dos caciques partidários e suas legiões de delegados, o que os obriga a fazer difíceis e às vezes deletérias concessões políticas.

Mike Morris, por exemplo, é um democrata progressista, que defende a adoção de combustíveis alternativos e o fim de uma era de envolvimento americano em conflitos bélicos no mundo. Mas depende do apoio de um quadro conservador do mesmo partido, o senador Franklin Thompson, o qual oferece seu apoio àquele que lhe prometer a melhor posição na futura administração.

Há ainda um escândalo sexual na história, que prefiro não contar para não estragar o prazer de quem não viu o filme.

Então lembrei de nossa situação aqui em Vera Cruz.

Março de 2012 deverá ser o mês inaugural da presidente Dilma Rousseff, depois de um janeiro e fevereiro sem grandes acontecimentos, em função do recesso parlamentar e dos longos feriados.

Muitos analistas políticos têm advertido a presidente para que tome cuidado sobretudo com ataques vindos de seu próprio campo. Uma eventual reforma ministerial que melhore a eficiência do Estado e reduza a influência de algumas figuras não muito comprometidas com o bem estar do povo brasileiro será uma excelente notícia para o país. Ao mesmo tempo, deverá elevar o grau de insatisfação dos setores que perderão prestígio e poder.

A história de Clooney mostra bem o perigo extremo trazido por egos feridos e ambições esmagadas, e como o poder se torna refém, frequentemente, de um jogo de pressões e interesses, cuja única regra é não se queimar junto ao eleitor. A aliança entre mídia e poder é a receita básica para a vitória nas eleições americanas. Neste sentido, o Brasil me parece até mais evoluído que os EUA, porque temos uma legislação eleitoral que provê os partidos de recursos financeiros e tempo gratuito de mídia, além de não existir a figura, um tanto oligárquica, do “delegado”, que é uma espécie de voto indireto. O voto popular no Brasil é universal e cada um possui o mesmo peso. O sistema americano nunca permitiria elegar um Tiririca, mas também praticamente bloqueia os cargos políticos a dirigentes sindicais e demais representantes comprometidos com as causas mais populares ou trabalhistas.

À guisa de conclusão, e apenas por brincadeira, deixo um alerta à presidente: Dilma, cuidado com os idos de março! Tudo leva a crer que seus adversários deverão deixar para esse período os ataques mais letais.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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