O mapa da violência do Instituto Sangari, divulgado ontem, virou manchetão terrorista do Globo.
Os números realmente são assustadores. O Brasil permanece um dos países mais violentos do mundo.
Entretanto, isso não é novidade.
O que é realmente novo no relatório do instituto é justamente o contrário: a forte queda nas taxas de homicídio no país, com ênfase nas principais cidades.
O Estadão tratou de catar cidadezinhas onde o índice de homicídios é particularmente elevado. Num país com quase 6 mil municípios, claro que vai encontrar exemplos estatísticos bizarros, sobretudo em cidades pequenas, com população minúscula, onde eventualmente disputas políticas locais podem fazer a taxa crescer absurdamente de um ano para outro.
O esforço, como de praxe, é para pintar o Brasil com tintas sombrias.
O relatório, porém, traz números excepcionalmente positivos para o Brasil. Primeiramente, é preciso cuidado ao olhar o Brasil como um todo, porque é um país com diferenças regionais tão profundas que uma média simples não é um número muito esclarecedor.
O Globo acentuou o crescimento das taxas de homicídios desde 1980 até 2011, mas eu acho que deveríamos prestar ainda mais atenção num outro fenômeno: a queda verificada a partir de 2003. Sobretudo nas regiões metropolitanas das grandes cidades. Eu sei que não devemos tampar o sol com a peneira, mas não custa nada a gente olhar o aspecto positivo das coisas de vez em quando. O próprio Instituto enfatiza a mudança profunda nas tendências das mortes a partir de 2003, embora demonstre bastante pudor em admitir que as políticas sociais do governo, o aumento do salário mínimo e a queda no desemprego, talvez tenham sido mais determinantes do que as campanhas pelo desarmamento.
No gráfico abaixo, vemos a reversão da tendência de queda na taxa de homicídios do Brasil desde 1995. Os anos neoliberais de FHC testemunharam a maior alta da criminalidade da história nacional; e a era Lula assistiu à uma tendência de queda e estabilização. Quando a economia cai 0,001%, a mídia faz um estardalhaço apocalíptico. Bem que poderia dar um pouco de destaque à queda de 1,2 pontos registradas em 2010, na relação com o ano anterior.
Como eu já disse, contudo, o Brasil é muito grande, e essas médias não dizem muito. Vamos pegar então uma região metropolitana do Rio de Janeiro, que sempre foi uma das mais violentas do país.
Quer dizer que não deveriamos dar destaque à um declínio tão profundo na taxa de homicídios do Rio de Janeiro? Na maioria das outras capitais, aconteceu o mesmo: uma queda acentuada nos índices de morte violenta.
As taxas ainda são altas no Brasil e há regiões onde elas cresceram barbaramente, sobretudo em zonas de conflito agrário, onde a população, porém, é muito escassa e qualquer morte impacta fortemente no índice regional. O governo deve combater duramente a escalada de violência nesses obscuros e violentos rincões do país. Ao mesmo tempo, os números das grandes cidades, como o Rio, nos permitem vislumbrar um futuro melhor, mais pacífico e ordeiro, e acho que essa é a novidade mais interessante mostrada no relatório.