Neste final de semana, a opinião pública especializada em política, pela primeira vez na história recente, não foi pautada por um escândalo da Veja ou dos jornalões tradicionais. O fato político que dominou corações e mentes foi o livro A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr, que traz uma vasta documentação onde são exibidas as vísceras do processo de privatização no primeiro mandato do governo Fernando Henrique Cardoso.
Este é um assunto que gostaria de tratar com o máximo de cuidado e isenção, até porque jornalistas da imprensa tradicional, alguns pessoas inteligentes, começaram a desmerecer o autor, sem ao menos ler o livro. Um deles começou a desqualificar Amaury simplesmente por causa do seu jeitão. Amaury participou de uma coletiva na sexta-feira, onde chegou visivelmente tenso, e tratou de desabafar. Ele pesquisa esse livro há vinte anos, e já foi terrivelmente atacado e ridicularizado pela grande mídia por causa disso. Grandes jornais fecharam-lhe as portas apenas em virtude de sua disposiçao de investigar as denúncias de lavagem de dinheiro, que é sua especialidade, de integrantes do governo Fernando Henrique.
Em 2010, durante a campanha, o livro de Amaury, que estava quase pronto, veio à tôna. Havia interesse do PT, naturalmente, que ele fosse divulgado, já que traz documentos que punha o candidato adversário em dificuldade. A mídia fez um grande estardalhaço para abafar o conteúdo da obra, e apareceu até um rapaz em Santos, um despachante simplório, acusando Amaury de lhe dar dinheiro para subornar fiscais de uma repartição, para obter um documento sigiloso e falsificá-lo.
São coisas de campanha; e a mídia participou ativamente da campanha serrista.
O livro de Amaury tem um capítulo dedicado apenas aos bastidores da campanha de 2010, onde não perdoa inclusive o PT. Aliás, o livro de Amaury também acusa o PT de ter participado de uma operação abafa por conta da enorme lavanderia de dinheiro sujo descoberta com a CPI do Banestado. Ou seja, é um livro impiedoso com todos, embora o foco principal seja a corrupção desenfreada que aconteceu nos bastidores da privatização dos anos 90.
Na coletiva de sexta-feira, um dos integrantes aventou a possibilidade da blogosfera criar uma espécie de Comissão da Verdade, tendo como base os documentos revelados por Amaury. Neste sábado, Eduardo Guimarães, teve a ideia de pressionar o Ministério Público Federal, através do envio, por Sedex, do livro de Amaury ao chefe do MPF, o senhor Roberto Gurgel.
Antes de continuar gostaria de rebater algumas críticas que ouvi por aí ao livro:
- Um jornalista ( o mesmo que cismou com o jeitão de delegado do Mato Grosso do Sul, que Amaury realmente tem) ficou no Twitter só desqualificando algumas declarações de Amaury. Sobre isso, quero dizer o seguinte: Amaury Ribeiro não é o Oráculo de Delphos. É um repórter investigativo, com especialização em lavagem de dinheiro, com mais de 50 prêmios em sua área (veja aqui um dos 3 prêmios Esso que ganhou). Já trabalhou nos maiores jornais e revistas do país. A questão não é saber se 100% das denúncias ou conclusões de Amaury são verdadeiras. A questão é analisar, objetivamente, quais são verdadeiras, e qual a sua gravidade. Não podemos jogar a obra completa de Nietzsche o lixo só porque ao final da vida ele beijou um cavalo e disse que o animal era a reencarnação de Cristo.
- Um comentarista escreveu que não se interessa por crimes que “já prescreveram”. Isso é uma tremenda besteira, fruto apenas do desespero de ver seus ídolos na cadeia. Essa não é uma questão partidária. É uma questão nacional, de trazer a verdade à tôna. Não importa se FHC ou Serra serão presos. Por isso foi tão feliz a comparação com a Comissão da Verdade. É fundamental que o Brasil conheça o que aconteceu durante o processo de privatização. É um esclarecimento. Para que isso não se repita, e para avaliarmos com mais conhecimento de causa os acontecimentos de um momento histórico importante do nosso período de redemocratização. Arqueólogos arriscam a vida para conhecer fatos que ocorreram há milhares de anos. Por quê? Porque tudo serve à ciência; em nosso caso, conhecer os bastidores da privatização, serve à ciência histórica, à ciência política, à história da economia, além da questão propriamente ética. Vamos ver agora se esses movimentos todos anticorrupção são autênticos e irão participar de uma campanha para que os crimes denunciados por Amaury, que envolvem bilhões de dólares, e transformam qualquer “mensalão” recente em roubo de galinha, sejam investigados.
- Tentam desqualificar Amaury pelo fato dele ter sido indiciado pela Polícia Federal em 2010, o auge da campanha, na onda da histeria midiática sobre a quebra de sigilo de alguns tucanos de alta plumagem. Essa é uma grande ironia. A mídia jamais fez escândalo com a quebra de sigilo dos negócios do Palocci, do Pimentel; os únicos sigilos que realmente são intocáveis, ao que parece, são de tucanos. De qualquer forma, essa é uma discussão de baixo nível, porque hoje em dia há uma tendência pelo fim do sigilo para políticos. O próprio Amaury tem uma posição firme sobre isso: lembrou-nos, durante a entrevista, que há no Senado americano um debate requerendo o fim dos sigilos fiscais e bancários para qualquer um envolvido em atividade pública, sendo essa a única maneira de vencermos, definitivamente, o crime organizado. Entretanto, o Amaury afirmou que sua investigação é toda baseada em documentos que não são sigilosos, ou que pelo menos foram obtidos de maneira pública, simplesmente consultando cartórios no Brasil e no exterior.
- Amaury começou a entrevista com uma conclusão, a que chegara após a descoberta de tanta roubalheira: a privatização foi um processo onde o interesse principal era a corrupão, e não a ideologia neoliberal.
- As figuras centrais nos esquemas de lavagem de dinheiro e corrupção, por trás da privatização, foram Ricardo Sérgio, Gregório Marin Preciado, Daniel Dantas e José Serra.
- Amaury descobriu, fundamentalmente, um esquema de lavagem de dinheiro, que consistia no seguinte: empresas de fachada investiam em empresas brasileiras, com isso justificavam, junto ao Banco Central, a entrada de grande quantidade de recursos; depois, essas empresas brasileiras não davam certo, ou seja, davam prejuízo, justificando o sumiço do dinheiro e o não-pagamento de impostos.
- Preciado, cujas ligações com Serra são infinitas, obteve empréstimos de milhões de reais junto ao Banco do Brasil, mesmo possuindo inúmeros títulos protestados na praça. Amaury demonstrou enorme revolta com esse fato, pois contou que é dono de uma pequena pizzaria em Campo Grande, que herdou do pai, e o BB vetava-lhe qualquer financiamento ao mesmo tempo em que liberava milhões para um pilantra conhecido.
- Ricardo Sérgio era o mentor de todo o processo, o homem que dominava a tecnologia financeira necessária para realizar as operações de lavagem de dinheiro, pelas quais o dinheiro da corrupção era internalizado “legalmente” no país.
- Amaury demonstrou que Serra usou a sua filha, Verônica, e seu genro, como seus próprios laranjas. Verônica usou uma empresa, a Decidir.com, um site supostamente milionário, onde tinha sociedade com Daniel Dantas, para justificar a entrada de milhões de dólares no Brasil.
Também se entende porque o vale-tudo. Para Serra era fundamental ganhar as eleições, para ter mais ferramentas para evitar qualquer investigação sobre si mesmo e sua família.
Segue uma orientação de como adquirir o livro, que eu catei num comentário do blog Cidadania:
Listas das livrarias, onde o livro está disponível: http://www.geracaoeditorial.com.br/pontos_venda/brasil.php
1- Se não encontrar o livro, na livraria, encomende-o ao gerente;
2- Deixe o seu telefone e email para contato;
3- Volte na data marcada para retirar o livro e solicite que o mesmo esteja disponível, também, nas prateleiras da livraria.
Como comprar direto da editora:
1- Envie um email para comercial@geracaoeditorial.com.br ;
2- Cite o nome do livro e autor;
3- Informe os dados do comprador: Nome, CPF e endereço com o CEP para o devido cálculo do frete;
4- Informar a modalidade da entrega (Sedex ou outra).
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Um colega de twitter, @alexeisantana, transferiu o vídeo com a coletiva do Amaury aos blogueiros para o youtube: