Hoje a imprensa amanheceu um pouco mais emocionante, mais bélica. As circunstâncias agora pedem uma música mais agitada. Com vocês, o inesquecível Sabotage:
O Correio Braziliense trouxe a capa mais interessante do dia.
O ex-pm João Dias armou um barraco digno de um personagem de Dostoiévski. Entrou berrando na sede do governo do DF e jogou R$ 159 mil numa mesa. Um episódio bem “cabuloso”, como diriam os manos do Capão Redondo. Seria mais um jogo de cena de João Dias? Deixemos esse mistério para ser desvendado, no entanto, pela isenta e competente imprensa calanga.
Passemos à crise ministerial. O Globo se esforçou e conseguiu encaixar um belo jab no Pimentel. A notícia é capa do site do Globo e ocupa página inteira do caderno principal da edição impressa.
O título sarcástico da matéria impressa não deixa margem de dúvida sobre a disposição da mídia em derrubar mais um ministro.
Pimentel se tornou a bola da vez.
A narrativa da “faxina”, sobre a qual Dilma havia conseguido exercer um relativo controle, voltou às mãos da imprensa.
Ontem, o governo anunciou um pacote de R$ 4 bilhões para combater o crack, e a capa do Globo é sobre o subsídio às barcas que ligam Rio a Niterói.
Agora vemos que o PIB zero pode ser atribuído em parte às crises ministeriais, já que foi causado principalmente pela queda brutal nos gastos do governo. Queda esta provocada, por sua vez, pela paralisação das grandes obras do PAC, em função da queda do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e pela ordem vinda de cima de passar um pente fino em todos os contratos. Naturalmente, há o lado positivo, que é ter evitado algum desvio. De qualquer forma, não podemos culpar o rigor ético pelos atrasos. Não adianta desenvolver os músculos com anabolizantes nocivos à saúde.
A luta midiática constitui, por fim, a maior prova política dos atuais homens públicos, notadamente do campo popular. E não se trata de uma luta contra a mídia, mas para sobreviver a seus ataques. Uma luta exclusivamente defensiva, de resistência.
Lula tornou-se uma lenda porque experimentou, nem sempre ganhando, uma sequência interminável de batalhas midiáticas. Atacaram seu casamento, seus filhos, sua honra, seus amigos, tudo que o envolvia, foi devassado pela mídia. Até hoje é assim.
A mesma coisa aconteceu ao PT. Atacado por todos os lados, impiedosamente, o partido emerge das urnas cada vez mais poderoso, e tem grande chance de avançar, em 2012, sobre tradicionais feudos da oposição.
A oposição conservadora, agindo à reboque da imprensa, atrofiou-se politicamente, infantilizou-se; mimados, perderam a criatividade e a disposição para o combate. O que é uma grande ironia. Se minha tese estiver correta, a imprensa (não me refiro a toda imprensa, claro, mas a seu núcleo proprietário), em seu afã para debilitar a esquerda, atua como uma catalizadora de sua força, pois obriga-a se exercitar diariamente na rua, na opinião pública. E que exercício político praticam os próceres do conservadorismo, se apenas ecoam, qual papagaios, manchetes de jornal e sua atuação se limita a requerer, quase sempre sem sucesso, que ministros venham dar explicações ao Parlamento acerca de denúncias publicadas em jornais?
O outro lado dessa dialética é o empoderamento da mídia. Isso não era para ser totalmente negativo, desde que houvesse um mínimo de respeito a uma determinada ética jornalística, o que não é o nosso caso, forçando a sociedade a exigir uma regulamentação mais rígida do jornalismo brasileiro. O fato também aumenta a importância do papel da blogosfera como contrapeso crítico ao poder da mídia corporativa. Todo o poder deve ter, contendo-lhe, um contra-poder. Esse é o pilar do pensamento democrático.
Em suma, Pimentel será tragado ou emergirá mais forte da crise? Por parte de Dilma Rousseff, está evidente (pois o contrário lhe traria imenso dano político) que ela fará de tudo para lhe apoiar. Caberá a ele, Pimentel, demonstrar a sua inocência e, sobretudo, o seu talento político. Com os holofotes apontados para si, o ministro vive agora o maior desafio de sua vida.