Bom dia, meus amigos e amigas. A histeria foi grande ontem, mas esfriou rápido. Entende-se agora que Dilma foi sensata ao não tomar nenhuma decisão súbita. A Comissão de Ética tem um nome pomposo, mas não pode ser transformada num tribunal de exceção, onde o destino de um ministro é analisado a toque de caixa apenas com a leitura apressada de matérias de jornais e revistas. Tampouco pode se tornar numa instância com mais poder que a presidência da República, cuja titular foi eleita por voto popular. Os membros da Comissão de Ética apenas prestam assessoria à presidente, mas estão, como aliás todo o judiciário brasileiro, sujeitos à contaminação midiática, ao erro, e suas decisões não podem ser vistas como as falas de um oráculo: devem ser revistas, discutidas e ponderadas. Fazer um julgamento ético com base em considerações altamente subjetivas é algo com o que devemos tomar muito cuidado.
Os jornais estão apostando todas as suas fichas agora que Lupi não passará de segunda-feira. De fato, está difícil segurar o homem, embora já se possa dizer que ele está quase superando o recorde de Tenório Cavalcanti, o Homem da Capa Preta, que se gabava de ter sobrevivido a mais de quarenta tiros. Sendo que Lupi não tem levado apenas tiros, mas também sucessivas facadas nas costas, como a do vereador que o empregou no Rio (que segundo uma notinha da Lo Prete recebeu telefonema do Lupi mandando ficar quieto se não quiser sair do partido) e agora do presidente em exercício do PDT:
Noto que a mídia agora tenta, quase desesperadamente, mudar a narrativa que ela mesmo ajudou a criar, meio que sem querer, segundo a qual Dilma seria uma “faxineira” ética. Noblat vem tentando descontruir a tese há tempos, e ontem ele conseguiu produzir sua peça mais forte neste sentido.
Fernando Rodrigues também ataca por esse lado, em sua coluna de hoje na Folha.
Na balança do imaginário popular, Dilma ainda é a presidente durona que está tentando se livrar do entulho podre da política (sic). É óbvio que essa imagem propalada não tem relação integral com a realidade. Foi apenas a que grudou na petista. Para sorte dela. O fato de Dilma ter desdenhado da Comissão de Ética Pública ao não demitir Carlos Lupi só é grave para quem tem interesse em acompanhar os fatos diários da política.
De qualquer forma, Lupi foi deixado um pouco de lado na sexta à noite e sábado pelo aparecimento de um conhecido personagem dessa novela mexicana que é a política brasileira.
A foto de Marcos Valério virou uma manchete populista do Globo, que tem uma espécie de tara com o processo do mensalão:
O Estadão também exibiu o homem na capa, mas sem manchete.
O Globo e as outras mídias naturalmente preparam desde já o palco onde será exibido o espetáculo jurídico da década: o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal. Sobre isso, acho que o Globo se confundiu, ao informar que Joaquim Barbosa, relator do processo, quer que o julgamento aconteça em abril de 2012. Segundo o Correio Braziliense, a previsão é de que o relatório de Barbosa seja concluído em maio, mas o julgamento deverá ocorrer somente em 2013.
Por fim, publico um quadrinho do Estadão, com informações sobre as fazendas “do mensalão” (achei a expressão engraçada).
De resto, vale a pena ler essa entrevista com Eduardo Campos, uma nova liderança de esquerda que está despontando.
Também acho importante linkar essa notícia, sobre uma reunião em Taboão da Serra, São Paulo, para discutir a “união” dos grupos anticorrupção (foto abaixo).
E reproduzo abaixo a entrevista coletiva de Dilma concedida em Caracas, onde ela afirma que Brasil e Argentina vêem a integração da América do Sul como uma forma de se proteger de uma década que promete ser de baixo crescimento. Por fim, ela brinca dizendo que “não é romântica” e que resolverá o caso Lupi na segunda-feira.
Na capa, a foto que correu a internet hoje, com Dilma sendo interrogada por um tribunal militar, de 1970. Foi tirada do livro recém publicado de Ricardo Amaral, sobre a presidente.