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O dia em que Dilma peitou a mídia

Os assistentes da execução haviam testado a lâmina na véspera, degolando sacos de areia. As gráficas distribuíram folhetos divulgando o evento. Quando chegou a hora, foram buscar o condenado, que chegou amarrado, berrando, provocando delírio na multidão aglomerada nervosamente diante do patíbulo.

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(Jihadistas da imprensa partem pra guerra).

Os assistentes da execução haviam testado a lâmina na véspera, degolando sacos de areia. As gráficas distribuíram folhetos divulgando o evento. Quando chegou a hora, foram buscar o condenado, que chegou amarrado, berrando, provocando delírio na multidão aglomerada nervosamente diante do patíbulo.

O condenado subiu a escadinha que leva ao estrado onde haviam instalado a guilhotina. Um especialista ainda fazia os últimos testes, verificando se a engrenagem estava devidamente lubrificada. Então colocaram-no naquela que deveria ser a sua derradeira posição em vida: na horizontal, o pescoço apoiado na base de madeira, um capuz preto cobrindo-lhe a cabeça.

Estava tudo pronto. Faltava somente a ordem do carrasco-chefe, que misteriosamente não se encontrava por ali. Procuraram-no nervosamente em toda parte. O público havia começado a protestar em altos brados. Queria sangue! Então alguém chegou, esbaforido, perplexo, e depois de controlar um pouco a respiração, contou que viera correndo desde a residência do carrasco, e que recebera a ordem expressa de… cancelar a execução!

Um sonoro e uníssono grito de “oh!” varreu o ambiente.

Pois é, meus amigos. Dilma peitou a mídia. Despiu-se do uniforme de auxiliar de limpeza e vestiu o antigo manto de guerrilheira. Assim como fez no embate eleitoral de 2010, deixou para mostrar suas garras na undécima hora. A situação do ministro hoje é claramente desesperadora, e uma crise política instaurou-se imediatamente em Brasília.  Não dá para saber até onde a presidente está disposta a resistir; sim, agora a luta não é mais entre Lupi e a mídia, mas entre Dilma e a mídia. Com Orlando Silva, houve uma situação parecida, no entanto. Dilma se recusou a demitir no momento decretado pela imprensa, mas o fez no dia seguinte. Será difícil evitar a mesma sorte para o ministro do Trabalho.

A edição impressa do jornal O Globo veio quase que inteiramente tomada por matérias anti-Lupi, além dos editoriais. A Folha, blasé como sempre, não deu manchete, mas publicou editoriais pesados e peremptórios. O Estadão teve uma crise tão severa de apoplexia ética e até esta hora sequer conseguiu atualizar a versão digital de seu impresso.

O material bélico contra Lupi hoje na imprensa é vasto. O que é interessante notar aqui é a espécie de ruptura que o gesto de Dilma parece caracterizar. Ruptura por parte da presidente e ruptura por parte de setores da mídia. Como exemplo dos tiros pro alto, temos colunas de Noblat, Dora Kramer e Eliane Cantanhede, os jihadistas da linha da frente do exército midiático de Globo, Estadão e Folha, respectivamente.

O caso foi parar, naturalmente, no Jornal Nacional, iniciando com a declaração acusatória do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel. Quer dizer, não exatamente acusatória em sentido lato, mas na forma, na expressão, o que aliás é o grande trunfo da imprensa, esse talento para extrair das autoridades, desde que esta seja um pouco cúmplice deste jogo (e quase todas são) a frase que mais lhe convém publicar.

Quanto a Comissão de Ética, que confessadamente baseou sua decisão em matérias de jornais e da Veja, não se esperava outra coisa. Entretanto, a mesma admitiu não ter encontrado nenhum indício do envolvimento pessoal do ministro em qualquer ilícito. Aliás, vale uma crítica a Comissão por não estar mais publicando as atas em seu site, dificultando o trabalho de blogueiros zelosos pela exatidão e que preferem sempre colher a informação diretamente da fonte.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Alipo

03/12/2011 - 20h14

Todo mundo sabe que se Gobery usou todo o aparato da ditadura para destruir o brizolismo e favorecer o lulismo. Por isso, o petismo não repetir o mesmo colocando Lupi na rua da amargura. Além disso, essa história de quando fosse esquerda no poder iria morrer de fome só ganhando o seria possível honestamente ter é coisa do PIG, nunca ouvi esquerdista dizendo isso.

_spin

03/12/2011 - 10h48

Li o post como se fosse, e é, uma gostosa crônica, é o nosso Brasil assim meio surrealista, a imprensa gastando tempo e grana com estas quinquilharias do Lupi enquanto os bilhões dos escândalos Controlar(Kassab), Metrô (Alckmin),,.ninguém viu. Também pudera, corrupção no atacado de tucano pode, pois a "res furtiva" costuma ser repartida com estes larápios donos destes meios de comunicação

_spin

03/12/2011 - 10h42

O Ricardo Kotscho matou a charada ao mostrar que escândalo tucano só quando a PF desbarata alguma quadrilha para, somente então, sair umas notinhas na imprensa
Já no que diz respeito a Dilma, a imprensa faz o papel de polícia, de tribunal, de judiciário, etc, sem direito a defesa ou a advogado para a vitima
Está sendo repetido o modus operandi usado pela imprensa para derrubar ministros
Estamos na fase do ministro escrevendo a carta para pedir demissão, a penúltima fase http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=27065

Lucia

02/12/2011 - 19h55

" Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer" Dilma apenas vai esperar janeiro para naturalmente exonerar o Lupi.

Gilson Raslan

02/12/2011 - 12h53

Se matéria de jornais e da mídia em geral servisse como prova para demitir ministro, não vejo razão para a existência dessa tal Comissão de Ética.
Fez muito bem a Presidente em não acatar, sem questionamento, a decisão daquela comissão.
O que me estranha nessa questão é a decisão de Sepúlveda Pertence, jurista brilhante e renomado, ex-ministro do STF, basear em matéria jornalista para condenar alguém.

baixadacarioca

02/12/2011 - 12h34

Eu tenho a seguinte leitura: é um embate de forças e a mídia quer provar que ainda é uma força considerável que não deve ser ignorada. Ela que sempre esteve presente nos negócios do Estado, em grande parte para usufruir dos recursos do erário, mas também dizendo o que e como o governo deve se comportar, sobretudo nas questões econômicas, vê sua presença ameaçada a partir do governo Lula com o PT. Não cessarão e farão de tudo para desqualificar Dilma se esta não tomar uma providência contra Lupi. Como disse o Edu, Se ficar (demitir) o bicho pega, se correr (não demitir) o bicho come. Esperar pra ver.

Elson

02/12/2011 - 10h19

Hoje o Alexandre Garcia comentou o caso Lupi , deu prá sentir o clima de euforia dele com essa decisão da Presidenta , pois o PIG espera que ela banque a permanencia do ministro , desgatando assim sua imagem .
A Presidenta deve ter avaliado que este não é o momento certo para tomar a decisão de demitir um ministro , afinal ela ficará fora do país e tal medida tem que ser negociada com o PDT .


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