A discussão sobre o Código Florestal, que ainda tramita no Congresso Nacional, sofre dos mesmos males que já foram percebidos no debate sobre a usina de Belo Monte. Muita emoção, pouca informação. Já escrevi vários artigos sobre o tema no Óleo do Diabo. Sou obviamente contra o desmatamento, e compreendo que o equilíbrio ecológico é um imperativo categórico da existência humana. E mais: sendo o Brasil um país não apenas com uma “vocação agrícola”, mas diante das atuais circunstâncias globais, com uma “obrigação agrícola”, um código florestal que proteja rigorosamente a natureza é fundamental inclusive para evitar que o nosso potencial agrícola seja afetado por desequilíbrios ambientais decorrentes da falta de planejamento ecológico e desrespeito à natureza.
O que realmente me incomoda é a ignorância de muita gente em relação à importância da produção agrícola brasileira no contexto da segurança alimentar global.
Não é honesto discutir o problema do agronegócio sem considerar esse fator: que a vida de bilhões de seres humanos hoje dependem do que se produz nas lavouras brasileiras, e sobretudo em suas áreas mais comerciais.
Então quando eu leio gente depreciar, em tom de desprezo, a importância da soja brasileira dizendo que ela serve apenas para alimentar porcos na China, eu fico aborrecido com a ausência total de bom senso no debate: ora, por acaso os chineses criam porcos por hobby? Em primeiro lugar, a soja é um dos vegetais com maior conteúdo proteico, servindo maravilhosamente para o consumo humano. Em segundo, ela entra, de fato, como componente da ração de suínos, que é o principal tipo de carne consumido na China. E os suínos são a proteína que garantem a sobrevivência de um bilhão e meio de chineses.
No Brasil, é a mesma coisa. A soja é o componente mais importante na ração animal. Portanto, quando se come carne no Brasil, está se consumindo soja.
A constatação da importância da soja não significa que devemos permitir o desmatamento para a produção de soja. O Brasil não precisa desmatar mais nada para aumentar, se quiser, em dez vezes a sua produção agrícola.
Para nos dar subsídios para o debate, publico abaixo uma tabela com a área plantada dos principais produtos agrícolas brasileiros.
Por fim, a última pesquisa do IBGE sobre distribuição de renda sepultou o preconceito de que o agronegócio não trazia desenvolvimento sócio-econômico sustentável. No Mato Grosso, principal produtor de soja a queda na desigualdade econômica caiu 40% de 1980 a 2010, em função da economia agrícola.
Confira agora, a título de curiosidade, uma tabelinha com a produção de soja por estado: