(Encontro Mundial de Blogueiros, realizado este ano em Foz do Iguaçu)
A blogosfera política entrou num período manso. A ala esquerda, ou progressista, me parece um pouco exausta, depois de um ano mais cansativo do que prometia em seu início. Um ano de sucesso para blogosfera, que realizou inúmeros eventos regionais, nacionais e até internacionais.
A enorme balbúrdia ideológica que caracteriza o primeiro ano dos governos, quando todos os grupos sociais querem se autofirmar perante o novo poder estabelecido; e surgem – meio que subitamente – poderosos focos de pressão com vistas a influenciar o Executivo, foi tão ruidosa em 2011 quanto foi em 2003, quando Lula tomou posse. Com um agravante. O terrível vácuo deixado por Lula, com seu carisma incomparável, não foi preenchido por Dilma, não num primeiro momento, nem num segundo. Mas talvez sim num terceiro.
A sucessão de crises ministeriais gerou muita tensão na blogosfera. Azenha, Rodrigo Vianna e Tijolaço não aderiram, contudo, às campanhas de defesa aos acusados, provavelmente por ceticismo em relação à inocência de cada um.
O Paulo Henrique Amorim, com seu Conversa Afiada, inclusive ajudou a derrubar alguns ministros, para grande decepção de muitos leitores, que o viam como espécie de herói governista; mas logo voltou às graças do povo com seu humor mordaz, quase assassino.
Quem se destacou este ano foi novamente Eduardo Guimarães, que soube se consolidar como um blogueiro carismático, enérgico e apaixonado, misturando explosivamente o analista, o militante e o político.
O jornalista Fernando Brito, do blog Tijolaço, realizou uma cobertura do acidente da Chevron, que substituiu o trabalho de centenas de jornalistas da grande imprensa.
Naturalmente surgiram muitos blogueiros novos que não tenho tempo de mencionar aqui.
Todos continuam unidos, porém, por uma causa comum: a grande batalha contra o “PIG” (partido da imprensa golpista), que após alguns meses de paz,voltou a sua velha estratégia de guerra ao “lulopetismo”.
Mas tanto o PIG quanto o governo aprimoraram suas táticas. O PIG, no início ao menos, amenizou o ataque ideológico, poupou a presidente recém-eleita, e centrou fogo em denúncias contra ministros, misturando crimes verdadeiros com outros absolutamente ficcionais. O governo jogou com a suavidade feminina da presidente, essa astúcia incomparável de quem manda enquanto finge obedecer. Evitando qualquer reação agressiva, Dilma conquistou as volúveis e nervosas classes médias, deixando os jornais numa saia justa, visivelmente constrangidos de fazer qualquer crítica que fosse interpretada como de caráter pessoal à presidenta. Foram obrigados a separar Dilma do “lulopetismo” assim como, durante um tempo, tentaram separar Lula do PT.
Tentaram vender a ideia de uma pessoa mandona e grossa com seus subordinados, o que acabou produzindo mais admiração, porque lhe conferiu uma marca pessoal, e defeitos de personalidade que, no caso, coadunam-se à sua função de chefe geral do governo.
Com Orlando Silva, no entanto, a mídia perdeu as estribeiras. O Globo ficou realmente histérico, iniciando um ataque de grande envergadura contra o PCdoB como um todo. Com isso, a mídia perdeu um tanto da razão e mexeu com os brios do governo, movimentos sociais e partidos de esquerda. O PT sentiu-se obrigado a organizar um debate sobre a regulamentação da mídia, a qual reagiu com a esperada virulência, como se pode verificar lendo a última coluna da Dora Kramer.
Voltando aos blogs, dando um passeio à direita, encontro o Reinaldo Azevedo às voltas (isso já tem semanas), com as briguinhas dos estudantes pelo comando dos diretórios acadêmicos. Chega a ser engraçado, porque ele acaba só atrapalhando os próprios grupos que pretende ajudar. Ele demonstra desconhecer, além disso, as infinitas nuances do esquerdismo no movimento estudantil. Na mesma Veja, o blog do Augusto Nunes mantém o diapasão escatológico. Ao entrar em seu blog hoje, vejo-o falando do mensalão e atacando… Delúbio Soares.
O problema da blogosfera de direita é que ela não parece apresentar meio termo. É de um radicalismo tão extremo que só lhe resta mesmo combater universitários trotskistas de primeiro período…
Chegando ao fim do ano, porém, vemos que Dilma conseguiu a proeza de ampliar seu prestígio e autoridade mesmo sofrendo o desgaste de perder ministros. Não me parece que a presidente tenha feito muito sucesso em nenhum extremo do espectro político, mas manteve a economia com pulso firme, fazendo o Brasil passar incólume por mais um estremecimento dos mercados mundiais – uma proeza que somente o povo, com seu bom senso insuperável, saberá dar o seu devido valor.