Leio no Globo que a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, desembarca nesta quinta-feira no Brasil para pedir que o Brasil ajude a União Européia. Quem diria! No entanto, concordo que os brasileiros às vezes exageram um pouco no ufanismo. Não temos nada a ensinar a Europa ou aos EUA em termos de governança econômica, visto que somos um dos países mais ricos do mundo há séculos e a maior parte do nosso povo ainda vive em grande dificuldade.
Não é o front econômico, contudo, que despertou a atenção mundial nesta terça, e sim um súbito e perigoso agravamento das tensões internacionais, após estudantes iranianos invadirem a embaixada da Inglaterra em Teerã. A impressão que se tem é que todos os envolvidos representam uma sangrenta comédia, cujo fim já está escrito: a guerra. Em geopolítica, a Europa tornou-se vergonhosamente submissa aos EUA, quase um bloco único, que votam quase sempre de maneira similar.
Vídeo do The Guardian, com imagens da tv estatal iraniana:
Mas esconjuremos a possibilidade de uma guerra contra o Irã, que geraria consequências ainda mais drásticas que a invasão do Iraque, visto o regime iraniano possuir uma organização militar muito mais disciplinada.
Voltemos à economia. Ontem aconteceu, no Rio, um encontro de economistas de esquerda, reunindo nomes como Maria da Conceição Tavares, Bresser Pereira e Carlos Lessa. As propostas discutidas me pareceram um pouco anacrônicas, como taxação de importados e fixação do câmbio.
O próprio Bresser admitiu que uma mexida no câmbio pressionaria a inflação para cima e os salários para baixo, mas que isso seria “uma situação rapidamente recuperável”. A realidade de um economista classe alta é, de fato, muito distante daquela vivida pelos mais pobres, para ele poder falar nesses termos. Ora, os pobres esperam anos para ver aumentos graduais e mesquinhos de salário, mas que para eles fazem uma diferença fundamental. De repente aparece um economista e diz que não haveria problema em haver uma “queda de salário”.
Eu sou contra o câmbio fixo porque o Brasil já sofreu muito com isso, e temos nos dado muito bem com o câmbio livre, que é muito mais saudável. Por trás da bandeira do câmbio fixo, há o velho discurso de estimular a exportação dos industrializados. O que não entendo é como Japão e Alemanha, os maiores exportadores mundiais de industrializados tem moedas fortemente valorizadas, e isso nao é problema para eles. E de que adiante estimular a exportação de industrializados e deprimir o consumo interno dos mesmos? O que falta à indústria é investimento em tecnologia e produtividade, além, é claro, de talento e inventividade. Por parte do governo, há cada vez mais crédito para o setor; inclusive a Dilma lança mais um programa de incentivo esta semana, segundo notinha publicada ontem na Monica Bergamo (Folha):
Hoje tivemos várias notícias boas no campo econômico. Uma empresa respeitada divulgou que o Brasil deverá terá investimentos de cerca de US$ 300 bilhões ao ano até 2020, e que a América Latina será a região que mais crescerá no mundo durante o período.
O IBGE fez um ajuste em sua metodologia que terá como resultado inflação menor para este ano e para o próximo. A FGV reforçou que a inflação no Brasil está controlada, e com viés de queda.
O desmatamento na Amazônia manteve-se estável em outubro na comparação com o mesmo mês do ano passado, com 385 quilômetros quadrados devastados, o que é uma notícia boa e má. Boa porque, com a Região Norte apresentando forte índice de crescimento, bem acima da média nacional, cresce também a pressão por desmatamento, então o fato de ao menos manté-lo estável, é um bom sinal. Ruim porque o Brasil precisa reduzir o desmatamento a índices efetivamente sustentáveis e para isso terá que se esforçar muito mais.