(Página 3 do Globo deste domingo, 27/11/2011)
Bem dizia Tim Maia, “paixão antiga sempre mexe com a gente, é tão difícil esquecer”. Esfriadas as crises atuais, a edição deste domingo do jornal O Globo conseguiu a proeza de trazer para o meio da sala um fantasma que, pelo jeito, continua assombrando a política brasileira: Marcos Valério. Não consegui entender, porém, onde a matéria quer chegar, pois as “denúncias” referem-se à serviços prestados pela ex-empresa de Valério em 2007, quando ele nem mais constava como sócio. Na verdade, nem são denúncias, visto que não se aponta exatamente nenhum crime, a não ser “indícios” de que a ex-empresa de Valério operou como lobista para uma empresa de informática em 2007. Que eu saiba, Valério possuía uma das maiores agências de publicidade do país, além de suas vastas relações políticas, que iam de tucanos a petistas. As agências de Valério detinham contratos com o governo de Minas e até com a Globo. Sem esquecer o elo, até hoje não explorado pela mídia quando aborda o tema mensalão, entre Valério e Daniel Dantas, o gênio da privatização do governo FHC. Então se explica que empresários, antes de Valério ser desmascarado, procurarem-lhe para serviços de “consultoria”.
Num box à direita, relembra-se a amizade entre Marcos Valério e Rogério Tolentino (que hoje responde pela ex-empresa de Valério), com menção ao início da trajetória propriamente “política” de ambos. Em 1998, os dois operaram um esquema de desvios para a campanha de Eduardo Azeredo (PSDB), candidato a reeleição para o governo de Minas. Diz a matéria que Tolentino era juiz eleitoral do Tribunal Eleitoral de Minas Gerais e que, segundo denúncia do procurador da República Patrick Salgado Martins, teria recebido 303 mil reais de Valério para favorecer a chapa de Azeredo e Clésio Andrade. Eu não sabia desse babado! Gostaria de ter mais detalhes! Esse meu Brasil é cheio de surpresas e emoções! Não sei porque tem gente que ainda prefere morar na Suíça, aquele país chato.
O objetivo da matéria talvez seja o de promover um certo saudosismo daqueles calientes meses durante os quais durou o escândalo do mensalão, quando a mídia brasileira acreditava que ainda podia derrubar Lula e destruir o PT. A prova disso está na chamada ao fim da matéria:
Pensando bem, a matéria força um pouco a barra ao tentar mostrar que Valério ainda exerce influência junto ao governo. O Globo faz a seguinte ilação: a empresa de Valério prestou um serviço para a ID2 em 2007; aí a matéria soma todos os contratos da ID2 com órgãos do governo, de 2008 até 2010, chegando o valor total de R$ 52 milhões; daí constrói o seguinte título:
É uma ilação provavelmente falsa, porque Valério pode até ter ajudado a empresa em 2007, mas não em 2010. A matéria não informa se os contratos em 2010 foram obtidos através de processos idôneos, se é uma empresa que presta um serviço reconhecido, se possui contratos com a iniciativa privada e com outros governos, etc. Lança-se uma suspeita bastante irresponsável de tráfico de influência por causa de um contrato já antigo e caduco da ID2 com uma empresa de Valério. Ao fim da matéria, há um arremedo de contraponto:
(Charge publicada hoje na capa do Globo, para lembrar que Lupi ainda não foi esquecido).
Lupi na mira: Este domingo não é de muito descanso para Carlos Lupi. A Veja, no entanto, tenta bater em Lupi atirando na presidente Dilma, acusando-a de não dar bola para uma denúncia feita há meses. O caso é da mesma família daquele publicado pela Istoé algumas semanas atrás, ao qual ninguém deu muita atenção.
A Istoé desta semana traz outra denúncia forte contra o ministério do Trabalho, sobre venda de registros sindicais. A Polícia Federal está investigando o caso e já andou fazendo, nas últimas semanas, uma devassa em computadores da pasta. Suspeita-se de um esquema liderado por Luiz Antonio Medeiros, que foi secretário de Relações no ministério.
A Veja entrevista Irmar Batista (o qual também aparece na Istoé), que acusa assessores do Ministério de cobrar R$ 1 milhão para aprovar o registro do sindicato que ele pensava em fundar. O Ministério respondeu a pergunta através de seu blog.
Folha e Globo publicam apenas nota tímida, repercutindo a entrevista da Veja. A Folha ainda enfatiza que o acusador “não apresentou provas”.
A expectativa agora é se haverá reportagem no Fantástico, e qual será a repercussão durante a semana. De qualquer forma, se não houver nada específico contra Lupi, e ainda não há, dificilmente ele cairá antes da reforma ministerial.
Blindando Kassab: Os jornais deste domingo fazem um esforço comovente para blindar o prefeito de São Paulo, Gilberto Kasssab. Folha e Globo dão ao prefeito uma chance de defesa tão grande que, simplesmente, ela é a única notícia. Mas o buraco é bem mais embaixo e a mídia talvez não consiga blindá-lo por muito tempo. Um blog do Estadão acaba de revelar que a Controlar, empresa que está no centro do escândalo que já custou o bloqueio de todos os bens de Kassab, foi uma de suas maiores doadoras. Se Kassab cair, teremos um fenômeno interessante, que analisaremos mais tarde.
Cristóvão Buarque X Serra: Os senadores Cristóvão Buarque e Pedro Tacques foram nomes do PDT que mais tentaram faturar, junto à mídia, com os imbróglios aéreos e ongueiros de Carlos Lupi, mas a sua postura denotou um viés oposicionista sem muita preocupação em se disfarçar. Nos últimos dias, alguns movimentos desses senadores reforçam essa tendência, que revela um pouco sobre os bastidores políticos de Brasília. Reproduzo abaixo, três notas que catei no Globo. A primeira foi publicada no Ancelmo, sexta; as outras duas foram publicadas sábado e domingo no Panorama.
PT e PMDB juntos no Rio: Essa notícia, publicada no Globo, também merece constar por aqui, apesar de não ser surpresa para ninguém. O PT vai apoiar a reeleição de Eduardo Paes (PMDB), atual prefeito do Rio. Paes deve acender velas até hoje ao santo que lhe sugeriu trocar o PSDB pelo PMDB.