Bom dia e desculpe o atraso na análise. Não ouvi o despertador. Ainda estou me acostumando à nova rotina, depois de vinte anos virando noite lendo e assistindo filmes e acordando tarde. Ao trabalho: hoje temos as seguintes capas em nossos queridos jornalões:
A grande notícia do dia é o escândalo Kassab, que finalmente apareceu numa manchete da Folha. Estadão e Globo deram chamadinha na capa e a notícia chegou ao Jornal Nacional. Estranhei apenas o fato da matéria não constar nas páginas políticas principais dos jornais paulistas, que a jogaram para o caderno regional, que são bem menos lidos pelo público nacional. Outra coisa curiosa é a ausência de qualquer menção do caso em editoriais.
De qualquer forma, o episódio poderá provocar uma reviravolta na correlação de forças em São Paulo, que vive atualmente uma movimentação febril dos quadros políticos interessados em assumir a prefeitura da maior cidade do Brasil. Quer dizer, isso caso o prefeito não consiga se explicar satisfatoriamente.
José Serra é novamente o grande derrotado, pois havia dito, na véspera de estourar o escândalo Kassab, que o PSDB deveria desistir de lançar candidato próprio e apoiar o nome indidado pelo atual prefeito.
Ainda nesta sexta-feira, o Jornal Nacional repetiu, com um pouco mais de tempero, o bloco já exibido na quinta-feira, sobre a suposta fraude ocorrida no Ministério das Cidades, que alterou um projeto de construção de uma linha rápida de ônibus para um de trem de superfício tipo VLT. O tempero a mais foi o questionamento feito pela Controladoria Geral da União (CGU).
O CGU é um órgão de fiscalização e controle fundamental para o Estado. Mas não devemos confundir as coisas. Uma coisa é o CGU identificar um desvio de verba e exigir que o governo tome as devidas providências. Outra coisa é o CGU pretender assumir o lugar do Executivo e ditar que obras ou que tipo de obra o governo deve fazer. Se o governo do Mato Grosso, o Ministério das Cidades e o Ministério do Planejamento entenderem que é melhor dar à Cuiabá um moderno trem de superfície do que implantar mais uma convencional linha rápida de ônibus, então que seja feito o trem! O CGU pode questionar o quanto quiser, pois o projeto pode ter sido de fato intempestivo, mas o CGU não entende de transporte urbano, não entende de prazo de obras, nem é o CGU que vai assumir o ônus político de entregar ao povo matogrossensse uma porcaria de linha rápida de ônibus! O Globo comete a astúcia de publicar uma notinha editorial, à página 16, dizendo que o Ministério trocou um “sistema de transporte mais barato (BRT) por um bem mais caro (VLT)”. Se O Globo entende que a solução em transporte urbano para as cidades brasileiras é adotar o sistema mais barato, entao voltemos às mulas!
Ainda neste assunto, uma outra notícia ganhou destaque: a choradeira do ministro das Cidades, Mario Negromonte, num evento em Salvador, que rendeu a manchete do Estadão e ganhou destaque em todos os jornais impressos. A reação do ministro foi lamentável, e as suas declarações, reclamando de preconceito contra mulher e nordestino, soaram apenas como uma tentativa esperta de se passar por coitado. Pegou muito mal. Quem deveria chorar é o Kassab, não o Negromonte!
Mas a situação de Negromonte é estável. Segundo O Globo, Gilberto Carvalho ligou para o ministro e tranquilizou-o, dizendo que a presidente conhece muito bem os trâmites burocráticos para se aprovar ou não uma obra e sabe que não houve nada de errado. Houve um parecer técnico ruim (e que interessava obviamente às empresas de ônibus), que não agradou a ninguém, a começar pelo governador do Mato Grosso, que é quem vai bancar 70% da obra, então o documento foi substituído, e o povo de Cuiabá, se Deus quiser, irá ganhar um dos primeiros projetos de trem de superfície em cidades brasileiras!
Ah, temos ainda um último ataque à Carlos Lupi, acusando-o de ter sido funcionário fantasma da Câmara por quase seis anos. Besteira, a meu ver. Lupi trabalhou para a liderança do PDT na Câmara. Sua função era política, e não ficar servindo cafezinho no Congresso, como parece ser o que a Folha, que lançou o ataque, acha que era o que ele deveria fazer. Tanto não era fantasma que se tornou presidente do partido logo depois e, em seguida, ministro de Estado.