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Inflação cai, mídia esconde novamente

Nem Folha nem Estadão deram uma mísera notinha de pé de página aos números divulgados ontem pelo IBGE, segundo o qual a inflação no acumulado dos últimos 12 meses ficou em 5,96%, abaixo do período anterior, de 6,69%.

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Os jornais repetem o ano inteiro que a coisa mais importante que o governo deve fazer é combater a inflação. Lembram inclusive que o país só começou a melhorar a partir do Plano Real, quando se conseguiu manter domar o dragão. Estão certos nisso, e as estatísticas revelam, de fato, que os índices sociais registraram um enorme salto assim que os indecentes reajustes quase diários dos preços tiveram um fim. E por conta disso, o povo brasileiro aprovou o primeiro governo FHC, tanto que este decidiu mudar a Constituição para permitir a reeleição, fazendo bem pior que Chávez, que ao menos realizou um plebiscito popular sobre o assunto.

Quando o Banco Central deflagrou, há alguns meses, uma virada na política de juros, iniciando um processo de redução bastante significativo, os mesmos jornais fizeram um escarcéu, alertando para o risco inflacionário. Miriam Leitão e Sardenberg, comentaristas econômicos da Globo, reagiram inclusive com agressividade, acusando o BC de populismo e irresponsabilidade. Hoje mesmo, o Merval solta a expressão no meio de uma frase: “(…) com a inflação em alta (…)”. A Miriam ao menos admite, em sua coluna de hoje, que a inflação está em queda no acumulado de 12 meses.

Tudo bem, eles erraram, é humano. Os juros baixaram e agora a inflação também está caindo. Só não entendo, e não aprovo, que a imprensa seja tão ranheta a ponto de simplesmente omitir notícias sobre a queda na inflação.

Foi o que aconteceu hoje. Nem Folha nem Estadão deram uma mísera notinha de pé de página aos números divulgados ontem pelo IBGE, segundo o qual a inflação no acumulado dos últimos 12 meses ficou em 5,96%, abaixo do período anterior, de 6,69%. Para minha decepção, nem o Valor (o melhor jornal atualmente) publicou nada sobre o assunto.

Somente o Globo deu a notícia, mas escondida na página 30 do caderno de economia, sem direito a chamada na capa, sem subtítulos, sem nenhuma das mil ferramentas existentes para dar destaque a trechos específicos. Por exemplo, a matéria diz que a “inflação veio abaixo das expectativas do mercado, que já voltou a prever que a taxa de 2011 encerre o ano no teto da meta de 6,5%.”

Então eu fui ao site do IBGE conferir os números na fonte, e eis que tenho outra surpresa.

Compare a inflação de novembro deste ano com a do mesmo mês de 2010. Caiu pela metade! De 0,86% para 0,46%. Porque cargas d’água a matéria do Globo não deu essa informação? A comparação com o mesmo mês do ano anterior é mais importante, em certo sentido, do que com o mês anterior, porque teoricamente equipara dois períodos sujeitos as mesmas sazonalidades, o que não é o caso quando se compara outubro e novembro.

Ainda no IBGE, acessei o histórico do índice e editei uma tabelinha para termos uma ideia mais completa da evolução da inflação nos últimos anos.

Vendo o histórico, nota-se que tivemos, de fato, um pique inflacionário este ano, provavelmente em função do forte crescimento econômico registrado em 2010. Na coluna dos acumulados em 12 meses, novembro deste ano registrou o maior índice para o mesmo mês desde 2004.  Mas isso já sabíamos. A novidade é que ela vem caindo.  Na mesma coluna, novembro apresenta queda significativa em relação a outubro (7,12% para 6,69%). Isso quer dizer que o BC pode continuar a baixar os juros, sem medo da Miriam Leitão, do Sardenberg e dos editoriais sem rosto do Estadão. Está dando certo.

Em virtude da importância da inflação para a economia brasileira, e sobretudo para a renda dos trabalhadores, a imprensa não deveria jamais negligenciar essa informação ao público, e acompanhá-las sempre de análise e levantamento estatístico.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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