Bem, a notícia não é tão boa assim quanto parece, porque o motivo que levou o governo a reajustar para cima o aumento que dará ao salário mínimo a partir de janeiro de 2012 foi a constatação de que a inflação foi mais alta do que esperado.
Todos os jornais anunciaram a notícia na primeira página, mas discretamente. O Globo deu uma merecida página inteira à notícia, em sua seção mais nobre, a página 3; o Estadão publicou na capa do caderno de economia, com direito a foto da ministra do Planejamento. Só a Folha parece ter publicado a notícia com certo desleixo, na página 8.
Por outro lado, é uma ótima notícia, pois os pobres também possuem suas táticas para ludibriar a inflação: mudam as marcas compradas, substituem alimentos por outros mais baratos, ou simplesmente param de adquirir certos produtos. De maneira que vale a pena comemorar: o novo salário mínimo, que deverá ser arredondado pelo Congresso para R$ 625, constitui uma grande vitória da classe trabalhadora.
Claro que ainda não é o ideal, ainda mais considerando que não é apenas a inflação que aumenta o custo de vida. Hoje em dia, todo mundo precisa de celular, uma boa tv, computador, internet. Há mais remédios à disposição, e necessidade de comprá-los.
Antigamente, o aposentado não tomava tantos remédios como hoje. Morria mais cedo, mas não culpava tanto o governo. Hoje, ele deve praguejar contra o governo a cada vez que gasta metade de seu salário na farmácia, ainda mais que ouve no jornal alguém informar que são os impostos os responsáveis pelo preço exorbitante de alguns produtos.
Esse é o paradoxo da modernidade. E a lógica pela qual, mesmo com seu padrão da vida melhorando, as pessoas tendem a ficar mais insatisfeitas. A ansiedade do cidadão cresce junto com suas expectativas. Mas essas são interpretações sociológicas ligeiramente acadêmicas, no mau sentido. Na prática, é evidente que um aumento do salário mínimo, ainda mais um da envergadura como o que se observará em 2012, traduzir-se-á em alegria e esperança para milhões de brasileiros, sobretudo os mais pobres, para quem alguns reais a mais ao mês significam um regime alimentar melhor.
Eu catei um infográfico do G1 e acrescentei o salário de 2012:
Os valores ainda estão corrigidos pela inflação de fevereiro de 2011, mas já dá para a gente ter uma ideia do que aconteceu ao salário mínimo desde sua criação. Observe que sua maior queda se dá após a morte de Vargas, ao final dos anos 50 e durante o ditadura. Os anos 90 representam o momento mais devastador para o SM, quando ele atinge ridiculos R$ 287. É nesse época que assistiremos a um crescimento brutal da criminalidade no país.
Entretanto, devemos tomar alguns cuidados com o gráfico acima. A comparação através de épocas muitos distantes gera distorções, sobretudo porque descontextualizadas. Por exemplo, em 1959, quando o salário mínimo correspondia, em valores atualizados, a R$ 1.732, na verdade apenas uma elite dos trabalhadores recebia essa quantia. A industrialização brasileira ainda era recente e a população ainda era predominante rural. E a previdência pública estava muito longe de atingir o grau de quase universalização que atingiu hoje.
O gráfico abaixo mostra a evolução do salário mínimo num período mais recente:
Os pesquisadores da área social já provaram que um aumento do salário mínimo brasileiro tem um poder enorme para promover o desenvolvimento sócio-econômico no país, sobretudo nas áreas mais frágeis economicamente, onde as únicas fontes de renda são aposentadorias e empregos na prefeitura.