Ficou tudo azulzinho. Os socialistas sofreram uma dura derrota nas eleições presidenciais e legislativas deste domingo. O Partido Popular, a direita espanhola, obteve maioria absoluta no Congresso e no Senado, conforme se pode ver nos gráficos acima, que eu colhi no site do El Pais.
A direita ganhou em todos níveis: além da vitória federal, no Congresso, no Senado e no Executivo, levou também quase tudo nas províncias, nas comunidades e nos municípios.
A Folha também fez um infográfico, que reproduzo porque traz uma comparação com 2008:
A abstenção não foi tão grande como se achava, até porque tem havido muito exagero. As teorias de “crise da representação” política agradam mais os acadêmicos do que expressam a realidade concreta. De fato, os “indignados” tornaram-se uma força importante na sociedade espanhola, sobretudo porque representam uma boa parte dos jovens, num país com desemprego absurdo de 22,6% (no Brasil estamos com somente 6% de desemprego, o que explica porque lá temos grandes manifestações de rua, e aqui não); mas agora vê-se que correspondem a mais uma das tantas minorias políticas que existem no país.
Segundo o El Pais, a abstenção chegou a 26% do total de eleitores, ou 9,7 milhões, de um total de 24,59 milhões. A participação de 72% é a quinta mais baixa da história. Quinta mais baixa? O que significa isso? Nada. O recorde de abstenção aconteceu em 1979, quando 32% dos eleitores não votaram.
Não se pode inferir do resultado na Espanha qualquer virada nas tendências ideológicas do continente. Antes, parece se tratar de uma simples e objetiva manifestação do povo em promover um revezamento político. Os socialistas tiveram sua chance, não tiveram competência para reverter o desemprego e a recessão, então rodaram. Simples assim. Em nenhuma democracia do mundo a maioria do povo se apega a bandeiras ideológicas. É bem mais pragmático que isso: tá ruim a situação? Então vamos mudar. Tá boa a situação? Então continuemos. Por essa razão, uma das teorias mais populares da ciência política é que oposições não ganham eleições, os governos é que as perdem.
Essa teoria é corroborada através de uma simples comparação com a França, onde ocorre uma situação perfeitamente invertida. Diante da impopularidade do governo Sarkozy, a esquerda ganhou quase todas as províncias na eleição realizada ao final de 2010, e é favorita para o pleito presidencial de 2012. O eleitor francês parece disposto a abandonar o ultraliberal Sarkozy e eleger um socialista como autoridade máxima do país.
A derrota da esquerda na Espanha, porém, me parece uma coisa absolutamente necessária para o seu próprio fortalecimento, porque a obrigará a se articular em conjunto com os movimentos sociais e sindicatos, possibilitando a criação de uma nova configuração política no país. Mas será uma união baseada na angústia e na luta, porque os conservadores espanhóis não o são apenas em matéria econômica, mas também nas questões morais. Tanto que o conservador e liberal Mario Vargas Llosa, que é peruano mas vive a maior parte do tempo na Espanha, disse que não votaria no PP em virtude de seu receio de retrocessos em questões como direito ao aborto, casamento de homossexuais, e demais bandeiras progressistas. Mas são justamente esses temas e não somente aqueles mais “ideológicos” que poderá levar a esquerda espanhola a se unir num grande bloco de oposição, com vistas a voltar ao poder em 2016 ou 2020.
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