A hierarquia das notícias num jornal é sempre reveladora. A página principal do caderno de política do Globo deste sábado dedica-se à decisão do ministro Asfor Rocha, do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), de determinar a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Agnelo Queiroz e Orlando Silva, ambos ex-ministros do Esporte.
Era uma medida esperada, pois se trata de um padrão nesse tipo de inquérito, proposto pelo Ministério Público Federal. Orlando Silva já havia, desde o início de seu martírio, posto seus sigilos à disposição da Justiça, então acredito que ele não deve ter receio de que seja encontrado alguma movimentação ilícita em sua conta. Agnelo também apoiou a quebra de seu próprio sigilo e avisou que não recorrerá da decisão do tribunal.
De qualquer forma, tanto Orlando quanto Agnelo, mesmo que tenham culpa no cartório, provavelmente não seriam tão idiotas a ponto de operarem dinheiro sujo a partir de suas próprias contas.
O que achei curioso é que essa medida, algo padrão e que não oferece emoção ou novidade nenhuma ao leitor, ocupe um espaço tão grande no jornal, enquanto a prisão do chefe da Assembléia Legislativa de Rondônia se restrinja a quase uma nota ao pé de página, sem fotos, sem históricos dos personagens, sem desdobramentos editoriais. Trata-se aqui de um verdadeiro e autêntico escândalo de corrupção, onde a PF recolheu, por bom período, provas documentais, gravações, vídeos, escutas telefônicas, enfim tem elementos concretos para prender e pedir a condenação dos acusados.
Pondo de lado as escolhas midiáticas, o caso em Rondônia pode ser lido de duas maneiras:
- Revela a podridão do sistema político brasileiro, onde constantemente vemos as autoridades máximas de estados e municípios envolvidas diretamente com o crime organizado e esquemas milionários de desvios.
- O próprio sistema está criando anticorpos contra a doença da corrupção. O primeiro anticorpo, naturalmente, é o voto, mas temos também instituições de controle e investigação bastante eficazes, como os tribunais de conta, o Ministério Público, e a Polícia Federal.