O vacilo do blog do Ministério do Trabalho, em mostrar fotos de um Sêneca para negar que Carlos Lupi não tinha viajado num King Air pode ter se transformado numa bala de prata, a mesma a que o ministro se referiu ao afirmar, semana passada, que somente saía “abatido” a tiros.
Faltou humildade em admitir o erro, e informar que as viagens de Lupi pelo Maranhão, naquela data, foram feitas parte num Sêneca, parte num King Air.
Parece que o problema maior de Lupi, desde o início desta crise, seja excesso de confiança, levando-o a adotar um comportamento chauvinista e exagerado.
Seja como for, a história do avião rendeu. E Lupi cometeu alguns erros crassos. Erros, principalmente, de sua assessoria, que deveria ter orientado o ministro, desde o início, a dizer que havia se encontrado sim com Adair Meira em algumas ocasiões, e ter contado a verdade sobre o uso do King Air.
O Globo hoje praticamente anuncia a demissão do ministro, em manchetão de capa. O Estadão também dispara uma bala-manchete de efeito letal.
O Jornal Nacional praticamente repetiu a matéria do dia anterior, acrescentando apenas a voz de Adair Meira, o que deu mais impacto.
Na verdade, a situação de Lupi havia se fragilizado desde a véspera por causa de um senador chamado Cristovam Buarque, da “ala ética” do PDT, que aceitou apor seu nome num pedido de abertura da CPI da Corrupção, provocando calafrios na base aliada e no governo, porque uma investigação parlamentar tão genérica repetiria aquela chamada CPI do Fim do Mundo, com poder e repercussão para, literalmente, paralisar a República.
Para completar o inferno astral do ministro e talvez selar o seu destino, o presidente regional do PDT do Maranhão negou que a legenda tenha bancado o avião. Mais uma vez, a assessoria do ministro mostrou-se desastrada, ao não ter sequer consultado suas próprias bases antes de ter passado qualquer informação.
Quanto à Dilma, fica numa saia justa, mais uma vez, entre “peitar” a mídia e assistir seu ministro ser fritado impiedosamente em praça pública, ou demiti-lo e ganhar uns dias de paz. É um dilema cheio de armadilhas, porque a paz é apenas passageira e a demissão de mais um ministro constitui uma derrota política. Por outro lado, não me parece que a presidente está interessada em enfrentar a mídia. Ao contrário, parecem-me cada vez mais críveis as versões de que ela está usando a mídia para, na prática, antecipar a sua reforma ministerial.
O problema é o custo dessa estratégia, conforme apontado no Panorama:
O aspecto melancólico dessa história é que, mais uma vez, derruba-se um ministro sem que haja prova de que o mesmo incorreu em algum ilícito. No caso de Lupi, houve um erro de informação sobre o uso do jatinho King Air ou Sêneca, mas isso também não é crime.