Jatinho da Veja não decola; mas denúncia de Istoé complica Lupi

A denúncia da Veja não parece ter provocado entusiasmo em seus colegas de imprensa. Ainda mais depois que o Ministério do Trabalho divulgou nota explicativa, com foto e tudo, desmentindo vários aspectos da matéria. Mesmo assim, os jornalões vieram com chamadas idênticas na primeira página, o que mostra que ainda há uma espécie de ação organizada, para enfraquecer e derrubar Carlos Lupi, pendurando-o na parede como mais um troféu da imprensa livre.

No Globo e na Folha, as chamadas de capa sobre Lupi foram pequeninas, na parte inferior do jornal. No Estadão, o destaque foi um pouco maior: veio na parte superior.

Seria injusto, todavia, acusar a imprensa de ter amarelado. As páginas internas dos cadernos políticos vem tomadas por bombásticas notícias anti-governo. O Globo, que vem se notablizando como a ala mais aguerrida da mídia em se tratando de Carlos Lupi, dedicou duas páginas inteiras, ou seja, a totalidade da seção política do caderno O País, ao ministério do Trablalho.

Mas não é a denúncia da Veja que ganhou espaço. Esta aparece, na segunda página, mas sem infográficos, sem fotos, como que acanhada, com as acusações expressas em verbos na condicional (“teria usado”) e trazendo explicações bastante convincentes do Ministério.

O destaque no Globo, ocupando toda a página 3, com direito a um belíssimo gráfico, é para o “loteamento político” do Ministério do Trabalho. A ilustração traz um mapa do Brasil, com setas apontando para boxs com informações sobre os chefes de várias superintendêncais regionais da pasta, mostrando o ministro de braços abertos na parte inferior.

 

Veja um pedaço da ilustração:

Parece um pedaço de carne, cheira como carne, até parece sangrar um pouco, mas é uma goiabada. Não é uma denúncia, e sim um informativo. Em outra circunstância, poderia ser usado até como uma peça de propaganda partidária. Neste sentido, é interessante, porque nos informa, de maneira ilustrada, quem são os ocupantes das superintendências, e faz uma crítica pertinente aos critérios de ocupação de cargos que hoje exercem funções importantes de auditoria nos estados. Supõe-se que deve haver corrupção nessas instâncias, mas não há provas de que esta seria muito menor se fossem ocupadas por “técnicos”.

Na parte inferior da página, temos uma matéria sobre o debate em torno do fim da nomeação política. Segundo a matéria, o Congresso aprovou uma resolução em 2007 em que se estipula um prazo para o Executivo encaminhasse um projeto de lei para definir competências e atribuições das auditorias fiscais das pastas do Trabalho e da Fazenda, e os sindicatos das categorias defendem que o cargo de superintendente seja ocupado por funcionários de carreira.

Como disse, o debate é pertinente, mas fica um pouco deslocado pelos objetivos de fundo da matéria, que é simplesmente enfraquecer Carlos Lupi.

A matéria da Veja foi parar, naturalmente, no Jornal Nacional, com direito a vários lances de câmera sobre as páginas da revista. Imagino que isso tenha um valor publicitário incalculável para os marketeiros da Abril. Ao fim do bloco, porém, a matéria traz as explicações do ministério, reduzindo um pouco os danos à Lupi.

Atualização às 16:00: Nas páginas internas do Estadão, deparo-me com uma série de denúncias contra o Ministério do Trabalho. Vou linká-las abaixo.

Ministério cobrava propina de sindicatos, diz revista
No Rio, convênios privilegiam PDT
Oposição acusa ministro de mentir à Câmara ao negar elo com dono de ONG

A reportagem da Istoé a que o Estadão se refere consiste numa denúncia particularmente grave, porque partindo de uma fonte identificada. Essa sim, se não for contestada muito bem, é daquelas que pode derrubar – e com justiça – um ministro.

Dependendo de como o Ministério, Lupi e os acusados forem retratados, e de como se defendem, na reportagem que deve ser exibida esta noite no Fantástico, o destino de Lupi não me parece muito promissor. E falo no curto prazo.

Atualização 13/11, 01:40 AM: Não foi exibida nenhuma reportagem no Fantástico. A ocupação da Rocinha ajudou Lupi. A via crucis do ministro segue durante a semana.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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