Três assuntos que apareceram muito na midia nos últimos dias mas não mereceram comentários por aqui. Tentarei suprir a lacuna agora. Só para variar, vou escrever em itens numerados.
- Pré-sal: bem, sou carioca e então para mim quanto mais royalties pro Rio, melhor. Ao mesmo tempo estou despreocupado, porque o Rio vai se dar bem de qualquer jeito. Um montão de indústria importante está se instalando aqui. A Comperj (maior refinaria da América Latina) está em construção e vai ser um gigantesco gerador de empregos. Mas tem também muitas outras, ligadas a siderurgia, refinaria, tecnologia, química e autopeças. Sem contar que o Rio tem sempre aquele grande destino turístico que nunca se realiza por completo. Quando o turismo começa a aumentar, estoura um bueiro na cara de um gringo, esfaqueiam outro, e as agências rebaixam a nota da cidade.
- Não se impressionem demais, porém, com a manifestação realizada no Rio. Com o aparato que o Cabral e o Paes usaram para organizá-la, ela foi até pequena. Primeiro, deram férias a todo funcionalismo. Segundo, fecharam a Rio Branco, principal artéria do centro do Rio. Botaram todo efetivo policial para organizar e proteger os manifestantes. As forças políticas e partidárias compareceram em peso, com suas bandeiras, militantes, cabos eleitorais e exércitos de propaganda. Carro de som, locutores treinados, telões, milhões de bandeiras do estado distribuídas gratuitamente. Assim até eu boto 150 mil na rua.
- A meu ver, deviam botar o dinheiro dos royalties inteirinho num fundo especial, a ser aplicado exclusivamente em ciência e tecnologia. Usar dinheiro do petróleo para aumentar despesas fixas do Estado só vai resultar em roubalheira e disperdício, como aliás é o que vem acontecendo com os municípios petroleiros do norte fluminense.
- Confusão na USP: o tema ficou intoxicado pelo debate ideológico e perdeu muito do sentido. Eu li vários artigos sobre o tema, mas acho que só quem está por dentro da dinâmica interna da USP pode ter uma posição mais consistente sobre os fatos. Mesmo assim, arrisco um pitacos. Desculpem se falarei besteira.
- Maconha: deviam legalizar urgentemente a maconha no Brasil. Uma parcela enorme da juventude fuma maconha e está sendo criminalizada. Além disso, legalizada, a maconha geraria impostos para o Estado, permitiria o controle de qualidade, e renderia divisas para o país através da exportação. O Brasil tem condições de se tornar (acho até que já é, mas ilegalmente) o maior exportador mundial de maconha, e faturar dezenas de bilhões de dólares por ano. Não interessa ao Brasil proibir a maconha.
- Fumar maconha, entre a juventude universitária, não tem nada a ver com ideologia. Na verdade é o contrário. Pode ser que existam radicais que fumam a erva, mas a maioria são apenas boêmios querendo relaxar um pouco. Se os maconheiros da USP são de esquerda é porque a maioria dos estudantes de universidades públicas são de esquerda.
- Por outro lado, há o fenômeno do filhinho de papai que não respeita a autoridade, ou que se acha no direito de humilhar uma autoridade policial. Já cansei de ver isso. Prenderam os três maconheiros? Ok, acompanhem-nos à delegacia, façam um protesto formal, etc, mas daí a agredir os policiais, jogando até cadeira neles (se é que fizeram isso mesmo), é uma atitude de playboy mimado. É apelar desnecessariamente para a violência. Deve-se respeitar a polícia, porque são trabalhadores que ganham péssimos salários e correm grave risco de vida para dar segurança aos cidadãos.
- PM prendeu seu amigo fumando maconha? Mantenha a calma, não piore mais as coisas. O cara vai apenas preencher um formulário, ser entrevistado e voltar para casa. Meses depois, terá que comparecer a juiz, que irá lhe dar uns conselhos. Só isso. Nem fichado é mais, na maioria das vezes. Continua réu primário.
- Não faz sentido também ficar lembrando a ditadura. A mesma já terminou há mais de vinte anos.
- Eu já vi com meus próprios olhos, aqui na Lapa, numa dessas sexta-feiras com multidão na rua, policiais serem quase linchados porque prenderam uma moça que fumava ostensivamente na calçada. Me deu raiva. Nessa brincadeira, um PM se descontrola, dá uns tiros e daí temos uma tragédia.
- A PM estava lá na USP por convite da própria universidade. Então não se culpe a PM, e sim a USP, a sua reitoria e toda a comunidade acadêmica que pediu a presença da polícia militar ou aceitou isso, e não deu orientação aos policiais (como também deveriam ter feito) para pegar leve com a garotada.
- Acho ridículo a PM perseguir os estudantes, conforme o relato de um professor, que falou até em invasão e revista dos centros acadêmicos. Mais ridículo ainda prender três alunos por fumarem maconha. Mesmo assim, hoje ninguém é condenado ou fica na cadeia por fumar maconha, então não há razão para tanta revolta.
- Eu acredito na política e na democracia, e por isso mesmo não aprovo voluntarismos golpistas. Os estudantes têm que se organizar pacificamente. É errado pretender ganhar no grito, ou fazendo invasões de reitoria, sobretudo na contra-mão de uma decisão da coletividade.
- Entendo que o atual reitor da USP não é popular, porque não foi o primeiro indicado pela comunidade, como era de praxe há décadas. Mas é o reitor e deve ser respeitado pelos alunos. Eu só acredito em política quando há respeito de parte a parte.
- O governo de SP reagiu de maneira imbecil e truculenta. Não houve tentativa de diálogo. Ou pelo menos, essa tentativa não foi ostensiva e pública, como deveria ser. Os estudantes podem ter cometido vários erros, mas são alunos concursados, a universidade pertence a eles, foi construída para eles, e o governo perdeu uma boa oportunidade de se mostrar magnânimo, inteligente e, sobretudo, adulto.