Resistência do PDT promete emoção

O rotina foi abalada. A mídia desta vez topou com um adversário que reúne melhores condições de se defender que os anteriores. Carlos Lupi revelou uma disposição para luta que promete fortes emoções durante a semana. E há indícios de que o Planalto também se cansou de ceder.

Saliente-se que a mídia está usando apenas uma parte de sua munição. O Globo lidera os ataques sozinho. Folha e Estadão atuam com discreção, apenas dando as notícias, sem manchetes escandalosas.

Na coluna da Lo Prete de hoje, informa-se que o Planalto orientou Lupi a “enfrentar a mídia”:

A informação é confirmada pelo Estadão: Dilma mandou avisar que não pode perder ministros a cada 15 dias e traçou uma estratégia para manter Lupi no cargo.

Seja como for, as condições políticas dessa vez são bem diferentes das que derrubaram outros ministros. Como eu já disse, Lupi é o homem forte do PDT. Os outros ministros não eram fortes em seus respectivos partidos. Lupi tem suporte das centrais sindicais (com exceção da CUT, que não é porém contra Lupi, só não assinou o documento de apoio). Nenhum dos outros ministros tinha um lastro sindical. Apenas Orlando Silva tinha um apoio mais enraizado junto aos movimentos sociais, e por isso mesmo sua saída revelou-se tão traumática – tanto que forçou o Planalto a organizar uma cerimônia de despedida semelhante à entrega de prêmio a um herói de guerra, provocando até hoje críticas e sarcasmo de próceres da imprensa. Merval Pereira alfinetou hoje em sua coluna:

O ex-ministro do Esporte Orlando Silva esperneou muito antes de pedir para sair, e o máximo que conseguiu foi um enterro de primeira classe, com direito a salva de palmas e a declarações estranhíssimas da própria presidente, que afirmou que não perdera a confiança nele, mas, no entanto, abria mão de sua preciosa colaboração não se sabe bem por quê.

A ameaça do PDT, de que se desligaria do governo caso este demitisse Lupi, e as declarações agressivas do ministro (“só saio à bala”), são sinais claros de que a tensão chegou a um limite perigoso. Perder o apoio do PDT seria jogá-lo nos braços de Aécio Neves, que já vem articulando com alguma destreza a reaproximação entre a Força Sindical (central ligada ao PDT) e o PSDB.

O poder da mídia será mais uma vez testado. Ela não tem nada a perder, de qualquer forma. Mesmo não caindo, uma campanha contra Lupi e o PDT é interessante para os setores da imprensa ligados à oposição, porque enfraquece o governo, vende jornais, e gera ambiente propício para uma crise política. Dilma terá que se adaptar de alguma maneira a esse ambiente inóspito. Uns dizem que ela deve partir para o ataque. Ela mesmo, porém, tem escolhido a conciliação. Suponho que ela continuará assim enquanto não houver nenhum ataque pessoal à ela própria; isso só deverá acontecer mais tarde; por enquanto a ordem é minar as bases de apoio e bombardear os muros de proteção.

No Jornal Nacional, a Globo preferiu arriscar outra bola: Agnelo Queiroz. A denúncia perdeu um pouco de força pelo fato do denunciante ter virado de lado – agora defende o governador e ataca seus adversários. Mas quase nem dá para perceber esse detalhe na matéria.

A tarefa de espinafrar Lupi ficou a cargo de William Waack, no jornal da Globo. Mas a reportagem conclui que Lupi, após a reunião com seu partido realizada ontem, “sai mais forte do cargo”. Outro fator que ajudou o ministro foi a declaração do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, de que não há indícios de envolvimento de Lupi em irregularidades, na contramão inclusive de um de seus subordinados, o procurador do MPF, Bruno Acioli.

 

Link da imagem na capa.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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