Agnelo sob ataque

As denúncias que derrubaram o ministro dos Esportes, Orlando Silva, agora se voltam contra o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz. A mídia não parece tão sedenta de sangue dessa vez, apesar de, em tese, as denúncias contra Agnelo serem ainda mais pesadas, embora inconsistentes. É que Agnelo não é ministro, então ninguém pode demiti-lo, e tem apoio de 15 dos 15 deputados distritais. Ninguém pode impichmá-lo. A Veja e o DEM tentam, no entanto, faturar o máximo politicamente e o partido deverá fazer, ao menos, um esforço midiático para derrubar o governador. É evidente, ainda, que Agnelo e o PT sofrem pesado prejuízo político com as denúncias. Afinal, político no Brasil é que nem mulher de César: não basta ser puro, tem que parecê-lo. Neste sábado, Globo e Estadão quase não lembraram do Agnelo; mas a Folha dedicou a ele a sua página mais importante, a número 4 (ver imagem), com direito a infográfico e tudo.

Na verdade, quem está encrencado não é propriamente o governador, mas o seu secretário de governo, Paulo Tadeu, por sua ligação e parentesco com os fundadores e gestores da ONG Cata-Vento. Ainda há muita confusão nessa história. A Folha afirma que o convênio que a ONG havia firmado com o Ministério dos Esportes foi reprovado. Agnelo Queiroz diz desconhecer esse fato. O atual presidente da ONG, José Ahyrton da Silva, também. Eu fui no site do Esportes, na seção de Transparência Pública, e dei busca pelo nome da ONG. O resultado deu adimplente.

 

A ONG obteve dois convênios com o Ministério dos Esportes, um de R$ 117,802.00, outro de R$ 239,400.00.

Seguindo a orientação do site dos Esportes, também fui no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CIES), e não encontrei nada de errado sobre a Cata-Ventos.

Mas eu prefiro acreditar que os repórteres da Folha não iriam contar uma mentira desse quilate. Até porque eles citam o próprio Ministério dos Esportes como fonte, embora de maneira institucional, sem mencionar nenhum funcionário ou departamento ou página na internet. Ficamos à espera somente de um documento que comprove que as contas da Cata-Ventos realmente foram reprovadas.

O Globo bateu pesado no Agnelo, usando aquele vazamento da Polícia Civil do DF, onde o governador chama João Dias Ferreira de “meu mestre”. Bem, é uma tremenda baixaria querer culpar um político por fazer a única coisa que saber fazer bem, que é chamar os outros por um apelido genérico, supostamente carinhoso, muitas vezes por preguiça ou incapacidade de lembrar o nome da pessoa.

Agnelo reagiu furiosamente ao vazamento na Polícia Civil, e está trocando praticamente a cúpula inteira da instituição em seu estado.

Na minha opinião, o governador vai sofrer ainda durante algumas semanas, mas sua condição política é estável. Seu secretário, Paulo Tadeu, é que periga sair do cargo, se a história da reprovação das contas da ONG de seus irmãos for verdadeira. Honesto ou não, a imagem de Agnelo Queiroz, cuja vitória nas eleições do DF significou para a maioria dos candangos emocionante renovação ética, ficará arranhada por um tempo.

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Janio de Freitas presenteia Agnelo com um inusitado apoio à iniciativa do DEM de pedir um impeachment do governador. Freitas diz que a substituição da cúpula da Polícia Civil provoca instabilidade na segurança pública do DF, com isso justificando o impeachment ou mesmo uma intervenção federal.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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