O Estadão plantou uma notícia bombástica há alguns dias, a de que Pizzolato teria sacado 1,6 milhão de euros numa conta suíça, a qual teria um saldo total de 2 milhões de euros. O saque teria ocorrido há dois meses, mais ou menos na mesma data de sua fuga para a Itália. Outros jornalões repercutiram a informação meio timidamente, sem destaque, sem acrescentar nada de novo. Ninguém sabe a fonte exata da notícia. Ninguém publicou qualquer documento, nem mesmo alegou tê-los.
Ela foi jogada no ar, do nada, com base em alguma suposta fonte, que seria ora a Polícia Federal, ora o “governo”, ora “autoridades brasileiras”. Que autoridades? Que setores do governo? Que departamento da Polícia Federal? Nenhuma informação mais específica. Tudo muito vago, tudo muito estranho, tudo cheirando a factóide, a mentira, a armação, do tipo que tentaram fazer com Lula, sobre quem também inventaram uma “conta no exterior”… Mas quem pode saber a verdade? A verdade é uma quimera, como diria um filósofo do STF.
É claro que publicaram sem destaque. Uma notícia dessa, se confirmada, mereceria a manchete em todos os jornais, por razões óbvias. Aliás, esse foi o objetivo. O mesmo Estadão, um dia depois, informou que a Polícia Federal teria pedido a quebra nos sigilos telefônicos e de cartão de crédito de Pizzolato. Tratava-se de um esforço para associar o pedido da PF, que aconteceu em 15 de novembro de 2013, à suposta descoberta de uma conta na Suíça de Pizzolato, assunto que veio à baila apenas agora, em janeiro de 2014. Mais uma manipulação. E dá-lhe repercussão. O Estadão foi perguntar à oposição o que achava da conta de Pizzolato na Suíça:
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No Estadão:
Integrantes da oposição cobraram ontem que as investigações sejam aprofundadas. O líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR), disse que é preciso apurar se existem outras contas abertas no exterior. “Tem que ir mais a fundo, saber de contas no exterior dos outros condenados. Porque mensaleiro faz o que faz, tem dinheiro fora do País, foge e, aos olhos das autoridades brasileiras, não há uma investigação para valer”, afirmou.
Para o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), o ex-diretor do Banco do Brasil é um exemplo do perfil do administrador público escolhido pelo PT. “Dá para medir a qualidade dos quadros do governo do PT pelo Pizzolato. É um exemplo dos tipos que o governo do PT arregimenta para a administração. Quantos Pizzolatos existem por aí?”, questionou.
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A notícia não traz o nome do banco, nem o número da conta, nem a cidade onde teria ocorrido o saque. Nada. A matéria no Estadão falava que a Polícia Federal investigava a tal conta em parceria com autoridades suíças. Em seguida, porém, o Globo publicou, meio que desastradamente, um desmentido, embora o escondesse ao final de sua matéria. Contatadas pelo Globo, todas as autoridades suíças negaram peremptoriamente qualquer investigação, em conjunto com Brasil ou não, de uma conta na Suíça de Pizzolato.
(Essa negativa constava apenas no jornal impresso, edição de 18/01/2013; o Globo a suprimiu na notícia publicada no site.)
Depois de causar um estrago calculado, merecendo inclusive um artigo desconfiado de Janio de Freitas, a notícia sumiu da imprensa.
Onde foi parar a conta na Suíça de Pizzolato?
O amigo de Henrique Pizzolato, Alexandre Teixeira, levantou a bola. Se a conta existe, então que façamos uma CPI.
Eu também me associo à iniciativa, afinal eu venho escrevendo sobre o mensalão e quero saber que conta é essa. Ela existe ou não? Por que a notícia de repente sumiu do noticiário?
Se a conta existe, quero saber de onde veio o dinheiro que a abasteceu. Quantos depósitos foram feitos, quantos saques?
Vou lhes confessar uma coisa. Estou de saco cheio. Não ganho nada com isso. Se descobrirem que Pizzolato é um facínora, e que tinha milhões de euros em contas na Europa, ficarei apenas decepcionado, e mais comigo mesmo, por ter sido ingênuo. Minha luta não é para defender ninguém em particular, e sim para defender investigações sérias, apartidárias, e julgamentos isentos, igualmente ancorados em provas. Não aguento mais esse show de acusações vazias.
Em sua coluna, Janio de Freitas, escreve o seguinte:
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“Na CPI que se ocupou do chamado mensalão, foi o depoente mais inseguro, titubeante, no próprio rosto o ritus do medo, senão pânico mesmo. Até muito mais do que o outro sufocado pela insegurança, Marcos Valério. Foi o único, também, a citar companheiro de partido e de governo de modo a transferir responsabilidades que lhe cobravam.
Já consumadas as condenações, participei de uma mesa de conversa sobre o processo, no Sindicato dos Advogados do Rio. À chegada, Henrique Pizzolato me esperava na saída do elevador, com a mulher. Trazia uma pasta para me entregar, com documentos dados como comprovantes da realização de trabalhos, pela agência de Valério, negados na acusação do Ministério Público e pelo relator Joaquim Barbosa. A votação da maioria, no Supremo Tribunal Federal, acompanhou a negação.
A tibieza de Pizzolato me impressionou. Quem falou foi sua mulher, um ou dois minutos. Não consegui dizer mais do que os cumprimentos, fixado na imagem de Pizzolato.”
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Na falta de acusações concretas, agora acusa-se Pizzolato de ser “inseguro”, “titubeante”, de mostrar, no rosto, o “ritus do medo”. E também de traidor, dedo-duro, por ter apontado um “companheiro de partido”. Aparecem historinhas de vinte anos atrás, de que Pizzolato fez isso fez aquilo. Ou então entram em jogo velhas richas sindicais, inchadas por rumores infundados ou mesmo mentiras. Virou doença. Virou um romance psicológico. Virou um filme dinamarquês.
Neste final de semana, assisti um DVD do filme A Caça, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. A história e o protagonista me fizeram lembrar de Pizzolato. Ele é professor numa escolinha infantil. Uma de suas aluninhas, filha de seu melhor amigo, uma garotinha de uns cinco anos, tem uma paixonite pelo professor, e tenta lhe beijar, depois põe uma cartinha de amor em seu bolso. Ele chama a garotinha e diz para entregar a carta a um amiguinho, ou então à sua mãe. E esquece o assunto. A garotinha fica aborrecida e inventa uma mentira à diretora do colégio, diz que o professor lhe mostrou o pinto. O caso vira um escândalo. A diretora pede que seus pais chequem se seus filhos têm sintomas de abuso sexual, e ao final as crianças estão todas inventando histórias sobre o professor, transformado subitamente num tarado psicopata. Só que ele é inocente.
A história de Pizzolato ter “dedurado” Gushiken foi mais um factóide das horas quentes do mensalão. Segundo seus amigos, não foi nada disso. Gushiken presidia a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), e controlava toda a publicidade do governo. Qualquer ação de marketing das estatais tinha que passar por ele, sobretudo a nível político. Pizzolato era, portanto, subordinado a Gushiken, e conversava com ele regularmente. A versão de Pizzolato é que ele mencionou o Fundo Visanet a Gushiken, explicando-lhe que se tratava de um caso à parte, de verba de natureza privada. Gushiken então teria lhe pedido para assinar o que tivesse de assinar, seguindo a orientação de seus superiores no Banco do Brasil.
Pressionado na CPI, Pizzolato disse simplesmente a verdade. A suposta entrevista a Istoé Dinheiro, que misturou suas falas na CPI a uma conversa telefônica, foi depois manipulada livremente na imprensa, sedenta por chegar aos escalões superiores e se aproximar de Lula. A frase “Gushiken mandou assinar” foi manipulada, descontextualizada, como se Pizzolato tivesse dedurado Gushiken. Mas dedurado o quê? Pizzolato não tinha nada a esconder, nem podia negar, numa CPI, onde era massacrado inclusive por parlamentares petistas, que era subordinado a Gushiken.
Quanto às observações subjetivas sobre as deficiências emocionais de Pizzolato, acho incrível que, na situação em que ele vivia, alguém possa lhe acusar de ter sido “inseguro”, ou de “tibieza”. Outro cidadão, na situação de Pizzolato, já teria se suicidado bem antes, culpado ou não culpado, apenas pelo tormento de ser linchado por tanto tempo e de maneira tão agressiva, pela mídia, pelas redes sociais e pelo próprio grupo político.
Ao longo do tempo, todavia, Pizzolato, o tíbio, o tímido, o inseguro, revelou-se muito mais determinado e mais objetivo do que todos os outros réus. A coragem, assim como o medo, é um negócio muito misterioso, diria Guimarães Rosa.
É certo que houve o isolamento de Pizzolato, mas foi sobretudo no início do processo, quando se deu uma grande fragmentação dentro do PT, em virtude da confusão instalada e da necessidade posterior do partido de seguir em frente governando o Brasil e participando de eleições.
Janio de Freitas esquece que, nos últimos dois ou três anos, o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil vinha participando de vários eventos juntamente com outros réus petistas do mensalão, como Genoíno, Dirceu, João Paulo Cunha e Delúbio. Ou seja, não vamos exagerar também esse isolamento.
Quanto à conta na Suíça, insisto que o Congresso tem obrigação de abrir uma CPI para investigá-la de maneira transparente e democrática. Não é possível que, após tantos anos de investigação sobre os réus, e depois de todas as devassas que fizeram na vida de Pizzolato, a mídia possa noticiar uma suposta conta na Suíça de 2 milhões de euros em nome dele e depois sumir com a história. Eu, como cidadão e blogueiro, quero saber a verdade! E se é uma mentira, quero saber também quem foi o responsável por divulgá-la. Vamos investigar isso a fundo?
martha silva
22/01/2014 - 09h28
A mídia cafajeste continua atuando!
Geraldo Galvão
22/01/2014 - 01h17
Os tucanos saquearam o país quando das privatizações, e ninguém consegue achar o dinheiro roubado. Já o Pizzolato é um incompetente que tem conta secreta na Suíça, e ao fazer um saque secreto, todos jornalistas do Estadão ficam sabendo. Sabem até que ainda tem saldo na conta. Foi essa competência jornalistica, que levou o Estadinho, digo, Estadão à bancarrota.
Ermindo Castro
21/01/2014 - 20h27
eles estão com medo do Pizzolato???? por que sera??? sera? a VIZANET???.???contas especiais??nm