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Uma suposta coisa divertida

Meu plano seria começar o post citando Di Franco e, numa pirueta sensacional, falar de David Foster Wallace, um jovem escritor americano que se suicidou aos 46 anos, e cujo livro de ensaios estou lendo agora.

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(A foto acima é da Revista Inteligência, cuja nova edição traz um ótimo artigo sobre o “barbosismo” no Judiciário)

 

O Estadão publicou no domingo e hoje os resultados de uma pesquisa, encomendada ao Ibope, sobre a preferência partidária dos brasileiros. Pesquei lá dois infográficos legais:

 

 

Trecho da matéria:

Os dados do Ibope mostram uma queda na popularidade do PT entre os brasileiros desde março de 2010, último ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Naquele momento, antes de a campanha eleitoral esquentar, o partido atingiu o auge na preferência dos eleitores: 33% dos entrevistados. Em outubro de 2012, o porcentual caíra para 24%.

Segundo o Estadão, o julgamento do mensalão, ocorrido no ano passado, seria a principal explicação para o declínio da popularidade do PT, embora todos os partidos tenham sofrido desgaste. O argumento ganha força quando se analisa o segundo gráfico, que mostra a evolução da preferência partidária junto às elites brasileiras.

É algo assustador – e ao mesmo tempo previsível – constatar que o PSDB, que vem se aconchegando cada vez mais à direita, de repente se tornou a legenda preferida dos mais ricos. Segundo o Ibope, entre os eleitores que ganham mais de 10 salários mínimos, o PSDB tem 23% de preferência, contra 13% do PT.

Trecho da matéria de hoje de Toledo:

Desde junho de 2001, quando 35% do topo da pirâmide se disseram simpatizantes, o PT vinha com viés de baixa nesse extrato. (…) Quando Dilma Rousseff assumiu sua candidatura à Presidência, no começo de 2010, a penetração petista na elite econômica já estava reduzida a 22%. Ao fim da campanha eleitoral, sete meses depois, a taxa havia caído para 16%. Hoje é de 13%. Apesar disso, a perda de simpatia do PT nada tem a ver com Dilma.

O declínio nessa ponta vem dos câmbios da direção partidária que desembocaram, em 2005, no escândalo do mensalão. O desgaste é cumulativo. A cada disputa eleitoral os adversários tiram a casca da ferida e o PT sangra novamente. Foi assim em 2010 e em 2012 – com a ajuda do julgamento do mensalão pelo STF.

O efeito mensalão sobre os estratos econômicos superiores também se nota na pesquisa Datafolha sobre a aprovação da presidente, divulgada no final de dezembro:

Depois de sua aprovação entre os mais ricos chegar a 70% em abril de 2012, caiu para 51% em dezembro; no mesmo estrato, e durante o mesmo intervalo, o percentual dos que consideram seu governo ruim ou péssimo saltou de 5% para 13%.

Entretanto, a popularidade de Dilma no total da população continua subindo, e o PT, mesmo tendo perdido a maioria entre os mais ricos, e registrado queda na pesquisa de preferência partidária do Ibope, cresceu em 2012, em número de parlamentares e prefeitos. Inclusive ganhando em São Paulo.  Enquanto a maioria da sociedade brasileira ganhar menos de R$ 6 mil por mês, o destino do PT está garantido.

*

Quero deixar registrado: eu havia planejado iniciar o post citando Carlos Alberto Di Franco, que pronunciou uma frase lapidar em sua coluna de hoje no Estadão:

É preciso avançar, e muito, no jornalismo de buldogues.

Franco é um cara muito esperto. Acabei descobrindo que ele simplesmente recauchutou um artigo de agosto de 2011, com o mesmo título, onde ele dizia coisas brilhantes como:

Mas não atiremos a esmo. Não publiquemos no domingo para, na segunda-feira, mudar de pauta. Vamos concentrar. Focar no mensalão. E você, caro leitor, escreva aos ministros do STF, pressione, proteste, saia às ruas numa magnífica balada da cidadania. Em segundo lugar, exija de nós, jornalistas, a perseverança de buldogues. É preciso morder e não soltar.

Meu plano seria começar o post citando Di Franco e, numa pirueta sensacional, falar de David Foster Wallace, um jovem escritor americano que se suicidou aos 46 anos, e cujo livro de ensaios estou lendo agora. Mas não foi dessa vez que consegui realizar uma proeza desse naipe. Parodiando o título do livro de Wallace, trata-se de uma suposta coisa divertida que eu nunca fiz. O deprimido e brilhante escritor americano pode suspirar aliviado em seu túmulo.

*

Andei sondando o Washington Post e descobri um artigo interessante, publicado há poucos dias, sobre uma pesquisa do instituto Pew com a opinião dos americanos sobre o aborto. Como este é um tema que sempre causa tremendo constrangimento em nossas eleições, o artigo e a pesquisa trazem subsídios importantes para o debate político no Brasil.  É que se aproxima o aniversário de 40 anos de uma decisão da Suprema Corte americana que legalizou o aborto no país até o terceiro mês de gravidez. A pesquisa informa que a maioria dos americanos (63% X 29%) ainda concorda com a decisão. O que me impressionou, contudo, foi saber que a maioria dos republicanos (48% X 47%) também aprova a lei. Mais incrível ainda, a lei é defendida pela maioria de protestantes e católicos!

Observe o gráfico abaixo:

Roe vs. Wade é o nome do debate no Supremo americano que produziu a decisão em favor do aborto. “Not overturn” significa não mudar [a lei que legalizou o aborto nos EUA].  Observe que 58% dos protestantes e 55% dos católicos são a favor da lei.  Entre os protestantes negros, o apoio à lei é de 65%! Entre os católicos brancos, de 63%!

Silas Malafaia vai ter um treco quando souber!

*

Ontem e hoje publiquei outros posts de conteúdo livre. Ontem sobre uma crítica do Estadão ao BNDES, hoje sobre o nível dos reservatórios.

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A presidente está pegando pesado para acelerar o crescimento econômico nos dois anos finais de seu governo. Só nos últimos dias, anunciou forte corte nos impostos sobre a folha de trabalho para todas as empresas brasileiras, o que incentivará o emprego. Anunciou também que vai reduzir ainda mais juros e spread e pressionar os bancos para ampliar o crédito a pessoas físicas e empresas.

Uma última observação sobre esta capa do Globo de sábado.

Diante de manchetes como essa, eu gostaria de entender porque um cara como Rodrigo Constantino vai à Áustria, onde a carga tributária chega a 43% do PIB e a arrecadação fiscal per capita é de US$ 39,2 mil (no Brasil é 38% e US$ 7,9 mil, respectivamente), falar que o Brasil vai acabar pois o Estado está grande demais…

*

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Paulo

21/01/2013 - 19h13

Parece que o I seminário de Economia Austríaca foi realizado em Porto Alegre/2010.

    Miguel do Rosário

    21/01/2013 - 19h36

    É mesmo? Mais ridículo ainda.

migueldorosario (@migueldorosario)

21/01/2013 - 08h29

Uma suposta coisa divertida que eu nunca fiz http://t.co/RVeqlfnc


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