O mais irônico nas pressões da mídia e oposição para derrubar o texto de Odair Cunha, relator da CPI do Cachoeira, é que o cheiro de pizza se desprende justamente daqueles que acusam a CPI de terminar em pizza. Todos aqueles que vociferam diuturnamente contra a “impunidade” dos poderosos chancelaram submissamente a impunidade de um jornalista mancomunado com uma quadrilha de criminosos.
Acho, porém, que houve injustiça contra o PT nas acusações de “covardia”. A legenda ficou isolada na CPI em sua disposição de convocar Policarpo Júnior, jornalista da Veja. O partido é minoritário na comissão. Não só isso. O PT tem carregado praticamente sozinho, entre os partidos, com exceção do PCdoB, a bandeira da regulação da mídia.
Entretanto, independente do relatório, a CPI reuniu vasto material a ser entregue ao Ministério Público e à Polícia Federal.
(Nota publicada hoje na coluna de Ilimar Franco, no Globo).
Neste link, você encontrará uma lista de todos os documentos recebidos pela CPI.
O PT já foi covarde, isso sim, durante o governo Lula. Agora está bem mais desenvolto, e aprovou diversos documentos com críticas muito contundentes aos meios de comunicação. O recuo de Odair Cunha, ao tirar Policarpo da lista, só aconteceu porque o texto deve ser, necessariamente, negociado com os membros da CPI para ser aprovado. E a maioria era contra.
Não é questão de covardia, portanto, e sim de momento político. A mesma coisa vale para uma suposta Lei da Mídia, tão necessária ao aperfeiçoamento da nossa democracia, mas infelizmente tão distante de ser defendida e aprovada pelo Congresso Nacional.
Não se pode confundir maioria governista no Congresso com domínio imperial sobre o parlamento. O Executivo só tem maioria enquanto propor leis e reformas que não conflitarem com os interesses e as ideias dessa maioria. Isso é democracia, vale para o bem, vale para o mal.
Eu vejo as pessoas falando: ah, o governo tem maioria no Congresso, então porque não aprova isso ou aquilo? Ora, o governo só pode aprovar matérias previamente negociadas com os parlamentares. Não sei como é na Argentina, onde aprovaram a Ley dos Medios, mas aqui no Brasil temos um parlamento voluntarioso e autônomo, e a ideia de propor regulamentação da mídia não me parece popular, ainda, entre a maioria. Ao contrário, há uma fila de congressistas, governistas ou não, querendo emprego como lobista da mídia. Trabalham até de graça, apenas em troca de elogios em cadeia nacional.
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Na Inglaterra, após dois meses de trabalho, a comissão que investigava o caso de Rupert Murdoch concluiu ser necessário ampliar a regulação da mídia inglesa. A sugestão de criar uma entidade independente para regular a imprensa britância conta com apoio de 79% da população, segundo pesquisa. Aliás, essa é a grande diferença entre lá e cá, esse apoio da população à uma lei mais rígida. Ao contrário do que acontece no Brasil, as classes médias e altas da Inglaterra estão, nesse momento, propensas a aceitar maior controle sobre os meios de comunicação, em virtude das circunstâncias. Mesmo assim, não é ponto morto. O Primeiro Ministro, que havia feito um discurso em favor da criação de órgão independente, recuou e acaba de se declarar contrário qualquer aumento de regulação externa ou estatal sobre a mídia britânica. Segundo o The Guardian, Cameron dará um ano para que as próprias empresas de mídia aprimorem o sistema de auto-regulação vigente hoje no país. Existe, na Inglaterra, um órgão formado pelos próprios meios, para monitorar e coibir os abusos da mídia; é o Conselho de Reclamações da Imprensa, PCC na sigla em inglês. Um comentarista do The Guardian disse que Cameron terá de provar ao público que não é um puddle dos barões da mídia inglesa.
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O que acontece na Inglaterra, embora tenha relação com o que ocorre no Brasil, não tem a explosiva conotação política que vemos por aqui. Os ingleses querem regular o sensacionalismo chulo, que expõe intimidades de qualquer pessoa com base numa suposta liberdade de expressão. A nossa situação é bem mais grave. Temos uma mídia infinitamente mais concentrada, mais poderosa, mais traiçoeira do que talvez jamais se viu no Reino Unido, e que se consolidou justamente num período de exceção. O cartel midiático que hoje se especializa em produzir crises é um rebento malcriado e sem caráter do regime militar.
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O novo escândalo de corrupção nos altos escalões da república, envolvendo nomes como o de José Weber Holanda, o segundo na hierarquia da Advocacia Geral da União (AGU), Rosemary Noronha, chefe do gabinete da República em São Paulo, e diretores de agências reguladoras, chegou numa hora bastante apropriada para a oposição, porque coincide com o fim do julgamento do mensalão. Ou seja, um escândalo pode ser engatado no outro. Além disso, o vazamento dos emails de Rosemary permite à imprensa criar tantas histórias forem necessárias. Saberemos detalhes de cada viagem internacional de Rose. Páginas e mais páginas sobre suas cirurgias plásticas, conversas pessoais, vida social e planos de futuro. Qualquer telefonema, para qualquer pessoa, empresa ou instituição, será relatado como coisa muito suspeita. Enfim, ela é o alvo porque se pode chegar, através dela, no ex-presidente Lula, o qual jamais será perdoado pela mídia por tê-la feito engolir uma fragorosa derrota em São Paulo.
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Lembremos, porém, que a correlação de forças está mudando. A partir de 2013, teremos um Brasil mais avermelhado, com a entrada de milhares de prefeitos e vereadores de esquerda em pequenas e grandes cidades, a começar por São Paulo. Se eu fosse Haddad, me preparava desde já e começava a montar um gabinete digital de qualidade, que lhe permita receber e transmitir informações, fazer a defesa política de seus projetos e, sobretudo, reagir aos ataques violentos que seguramente receberá da oposição midiática.
Guilherme Scalzilli
05/12/2012 - 13h00
Catarata
Quando levantei suspeitas acerca da recém-criada CPI do Cachoeira, algumas críticas me acusaram de fazer o jogo da imprensa corporativa, tentando gorar antecipadamente os trabalhos. Ao longo dos seis conturbados meses que eles tomaram, de fato houve momentos alvissareiros, recebidos com desmedida euforia por setores da blogosfera. Agora que é possível fazer um balanço dos resultados, porém, lamento a confirmação das minhas expectativas.
O fracasso parecia inevitável desde que a Delta ganhou destaque na CPI. A idéia de que o relatório pudesse partir das vastas conexões políticas da empresa para envolver ao mesmo tempo a revista de maior circulação no país e o Procurador-Geral da República, sem que as audiências lhes dedicassem um mínimo rigor investigativo, ultrapassava qualquer juízo sensato. A tentativa inicial do relator Odair Cunha de citá-los só pode ser entendida, portanto, como esforço para salvaguardar sua reputação junto à militância mais crédula.
O episódio evidencia a inabilidade estratégica do PT na condução da base parlamentar federal. Buscando criar um legítimo e necessário contraponto à tendenciosa cobertura midiática do julgamento no STF, o partido investiu esforços na pior alternativa possível. Atraiu inimigos fortes e numerosos demais, misturou polêmicas de abrangência descabida, forneceu pretextos para a desmoralização seletiva do noticiário e criou uma esperança irreal na platéia progressista. Com o devido respeito, parece até de propósito.
É curioso perceber que o equívoco praticamente sepultou as chances de uma CPI sobre as privatizações dos governos FHC. Esta constrangeria o Ministério Público a debruçar-se sobre um tema explosivo, que no futuro colocaria à prova o espírito saneador do STF. Mesmo que a decepção fosse previsível (ninguém imagina que Roberto Gurgel pediria a prisão de Verônica Serra ou que Joaquim Barbosa condenaria um ministro de FHC baseado no “domínio do fato”), os tiroteios resultantes ajudariam a divulgar as estranhas coincidências registradas no livro “A Privataria Tucana”.
A questão de combater os abusos do poder midiático passa por caminho diverso. A tão sonhada “murdochização” da imprensa antidemocrática exige que a esquerda parlamentar assuma essa bandeira com a necessária coragem, propondo CPI específica, mobilizando grupos de trabalho, utilizando seus laços com o Judiciário e pressionando governos a suspenderem a publicidade estatal em certos veículos. Se não há condições políticas para tanto, cabe à intelectualidade progressista redimensionar suas esperanças, adotando propostas menos irrealizáveis e frustrantes.
http://www.guilhermescalzilli.blogspot.com.br/
Érico Cordeiro (@ricocordeiro)
03/12/2012 - 12h56
Policarpo e a impunidade – http://t.co/DuAOJkNh
Anuário do spin
01/12/2012 - 05h15
Entendo Cameron, um direitinha, a ficha dele na Wikipedia mostra bem quem é este lider do partido conservador, dai comprrender o alinhamento dele ao pig ingles
Anuário do spin
01/12/2012 - 05h12
Fica esperto Haddad, a Globo e oposição
O TCM de SP será oposição
O MP de SP será oposição
O MPF será oposição
O STF idem
PF na oposição, Globo na oposição, MPF e STF na oposição. Eu ficar na oposição por causa do relatório da CPI do Cachoeira, que está sendo truncado não pelo PT mas por PMDB e demais que querem livrar a cara do Cavendisch e Marconi Perillo? Comigo não cabritinho. Não sou quem vai dar esse gostinho aos Reinaldões, Mervais e Noblats da vida.
@Guara_Borges
30/11/2012 - 07h35
Policarpo e a impunidade http://t.co/W0ScqkF0
Eugenio L. da Costa
30/11/2012 - 07h25
A GLOBO-PIG COM seu jornalismo de esgosto, defendendo POLICARPO E CACHOEIRA acabou sendo “injusto” com Demostenes?
Under_Siege (@SAGGIO_2)
30/11/2012 - 00h23
Policarpo e a impunidade http://t.co/9f1r9J4A via @sharethis
@SOLDADOnoFRONT
29/11/2012 - 22h33
É verdade, na CPI do Cachoeira o cheiro de pizza se desprende justamente daqueles que acusam de terminar em pizza. http://t.co/NYeVNZ71
@luisotaviolopes
29/11/2012 - 21h57
Mas ainda acho um recuo que mostrou fraqueza na hora errada
@migueldorosario RT @LuizAlaca: Policarpo e a impunidade – http://t.co/ydHz5oIv
@DomDiegoElZorro
29/11/2012 - 21h25
“@LuizAlaca: Policarpo e a impunidade – http://t.co/GLHGloi1“/mídia bandida.
Luiz (@LuizAlaca)
29/11/2012 - 21h09
Policarpo e a impunidade – http://t.co/OYE9fQKH
Roderick
29/11/2012 - 20h50
Não acreditto em lei de mídia no Brasil, a maioria dos parlamentares se elegem com o apoio de suas mídias locais: rádios, jornais e retransmissoras de TV. O própio Collor, que hoje ataca a Veja, tem relações com a midia local de Alagoas. O que move Collor ainda não sei, talvez vingança, ou talvez uma tentativa de recuperar sua credibilidade com certa parcela mais informada da sociedade.
Politica não é para amadores, quando se é de esquerda e na oposição, é fácil ter posições bem definidas no campo progressista, mas quando governo, qualquer vacilo pode por tudo a perder. Os avanços são lentos e negociados pacientemente. Aprovar as matérias do campo conservador (previdencia por exemplo) foi fácil, aprovar reformas estruturais é um parto, veja a lei do petroleo do pré-sal. E não me venham me falar em compra de votos, a própia mídia sabe que não houve, mas faz o seu jogo para derrotar o governo, este que é liderado por um partido que ela ainda considera perigoso, o PT.
sergio m pinto
29/11/2012 - 19h22
Nada a comentar sobre o conteúdo da matéria. Expõe claramente o que está acontecendo e o que estão tentando.
LibéLULA (@nobreh21)
29/11/2012 - 19h02
Policarpo e a impunidade – http://t.co/TUyVndXB
Zeza Estrela (@zezaestrela)
29/11/2012 - 19h01
‘o texto deve ser, necessariamente, negociado com os membros da CPI para ser aprovado. E a maioria era contra.’ http://t.co/6HGgapXp
@mariaturci
29/11/2012 - 18h55
@zezaestrela aqui, o @migueldorosario defendeu o PT melhor que os petistas todos ó: http://t.co/WwzHMyW7
migueldorosario (@migueldorosario)
29/11/2012 - 18h30
Policarpo e a impunidade http://t.co/5jYXqdmM